sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um crime sem pena - a novela pelo twitter de 13 a 25/12

25/12 - C33-Ivo sempre temeu ser um cara medíocre e nunca realizar nada q o distinguisse. Fazia tempo q considerava a ideia de matar alguém, pq não?


23/12 - C32-Ivo viu sua vida passar na tela da mente como 1 filme. A infância classe media o pai alcoólatra, o sonho de ser médico e seu gde medo.

22/12 - C31-Preciso saber p/ onde levaram Ida. PH: foi levada a um abrigo da prefeitura. Preciso saber o q vc fazia no apê de Ana na noite do crime?

20/12 - C30-Ivo voltou p/ casa. O irmão de Ida o esperava. Fez ameaças, deu 2 horas p/ Ivo trazer a menina de volta. Ivo voltou a delegacia. PH riu

18/12- C29-Seqüestro? Cárcere? Dei guarida p/ menina, fui solidário s/ saber q isso era crime. Vou sair daqui bem agora. PH sorriu. Nos vemos.breve.

16/12 - C28- Pq ñ disse nada s/ a menina no interrogatório? Terei q prendê-lo p/ sequestro e cárcere privado. O assassinato da velha fica p/ depois

15/12- C27-Conheci a menina na rua e a levei p/ casa, tive pena. Ficou em casa + de mês e depois fugiu. PH: talvez seja 1 bom álibi, me acompanha?

14/12 - C26-O tira conta q Ida foi encontrada dormindo na porta do apê de Ivo. Ela estava sozinha e dizia ser filha de Ivo. PH: O q me diz Sr Ivo?

13/12- C25-O interrogatório foi interrompido p/ 1 tira q trazia Ida à delegacia. "Olha aqui Dr, a menina diz q é filha do rapaz aí". PH se engasga.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Infraero ANAC e TAM tratam idosos e deficientes como gado

Fico imaginando como será a vida de quem for usar avião durante a copa do mundo em 2014. Se já vivemos um verdadeiro caos cada vez que precisamos usar os aeroportos agora, na copa, com quase um milhão de turistas na terra Brasilis, será mais fácil viajar de jegue.
Aliás, a Infraero a ANAC e a TAM já tem experiência de sobra para lidar com esse tipo de animal. Refiro-me aos jegues, parentes dos cavalos, primo das vacas. Para quem acha que estou exagerando, conto o que se passou comigo, em Congonhas, no fim de semana passado.
Fui convidado a participar da cerimônia de premiação do IV Concurso literário da UFF (Universidade Federal Fluminense) que aconteceria no campus da universidade em Niterói. Os organizadores do concurso foram extremamente gentis e carinhosos e ofereceram transporte aéreo e hospedagem aos finalistas do concurso. Fui.
Cheguei ao guichê da minha companhia aérea para fazer o chéquim, já que o chequão a gente faz quando compra a passagem. Solicitei uma cadeira de rodas. Fui prontamente acomodado numa cadeira, é verdade que tive que dar uma reboladinha para fazer meu quadril passar entre os braços da cadeira. Não é meu quadril que é largo, era a cadeira que era ridícula. O atendente tirou-me da região do chequim e colocou-me num canto, a parte. Fiquei incomodado com a solução e tratei de procurar as rodas da cadeira com as mãos a fim de me movimentar e sair daquela posição de escanteio na qual fui colocado. Apalpo daqui, apalpo dali e surpresa: não encontro roda alguma. A cadeira de rodas não tinha rodas, pelo menos não aquelas rodas grandes que emprestam o nome à cadeira de rodas. Estava devidamente deixado de lado e sem possibilidade de me locomover caso fosse totalmente dependente de uma cadeira de rodas. Ergui-me da cadeira e levei meus documentos indispensáveis ao tal chequim me apoiando em minha bengala.
Feito o chequim um funcionário da companhia aérea, muito solícito, transportou-me, naquela cadeira, até ao local do embarque. Após passar pela revista fui levado até uma espécie de baia, cercada por cordas de isolamento. Era um retângulo de aproximadamente 3x10 metros. Estacionou minha cadeira e me orientou a aguardar o embarque que ocorreria dali a umas duas horas. Na minha frente quatro ou cinco senhoras idosas e um senhor também idoso. Todos desacompanhados aguardando o embarque. A tal baia ficava bem no meio da passagem dos cidadãos “normais”, era uma espécie de mostruário ou vitrina de invalidez, por idade ou por motivo de saúde no meu caso.
Como ainda faltava muito tempo para o embarque decidi locomover-me pelo saguão, dar um rolê, bisbilhotar uma livraria, beber um café expresso e esse tipo de coisa que fazemos em aeroportos enquanto esperamos nosso embarque.
Ato-falho levei as mãos à lateral da cadeira em busca das rodas. Ôps, que idiota! Tinha me esquecido. Levantei-me, desencaixei o quadril com certo esforço, a cadeira levantou junto, mas logo cedeu e soltou-se das minhas ancas estreitas. Peguei minha bengala e nova surpresa: não tinha saída naquele retângulo cercado por cordas. Sob os olhares incrédulos dos demais confinados, liberei a corda de um dos lados do retângulo quando fui abordado por uma funcionária da companhia aérea:

- Pois, não, o que senhor deseja?

- Eu desejo tomar um café, passear e principalmente sair dessa baia aberta à visitação pública na qual fui colocado.

- Desculpe...

Como a funcionária não me entendeu fui mais direto e conciso:

- Quero sair daqui.

- Ah, mas o senhor não pode...

Nem deixei completar as balelas que iria dizer:

- Claro que vou sair, você deve estar maluca.

- Mas a passagem do senhor ficou com o funcionário. Os passageiros especiais têm que esperar aqui.

Espichei o pescoço para dentro do balcão e vi uma passagem, num ato de rebeldia, meti a mão lá dentro, peguei a passagem – depois conferi e constatei que de fato tratava-se da minha passagem - e sob o olhar estupefato da funcionária, liberei a corda de isolamento e, antes de recolocá-la no lugar, olhei para meus companheiros de vitrina da invalidez como que os convidando a um ato de rebeldia. Ninguém se mexeu. De certo haviam sido bem orientados. Rompi os grilhões da Infraero. Estava livre. Caminhei e lá de fora pude contemplar a cena medonha daqueles senhores expostos à visitação pública, ilhados, confinados num cercadinho como se fossem bebês ou pior, como se fossem porcos ou vacas num curral.
Então isso é tratamento especial? Esse povo precisa tomar vergonha na cara.
A tempo: embarquei, compareci a cerimônia de premiação e fui classificado em primeiro lugar no concurso de contos.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Conto premiado

Meu conto "Cinquenta anos...e agora?" foi classificado em primeiro lugar no IV concurso de literatura da Universidade Federal Fluminenese (UFF).
Abaixo um tiragosto e o link para quem quiser a refeição completa.

50 anos... e agora?
"O range-range da velha cadeira de balanço só cessava quando dona Benedita pegava no sono. Era uma velha casa com piso de tábuas. Tudo rangia por ali.

- Dona Benedita, tem um homem lá no portão.

- Então pode mandá-lo embora, pois não estou esperando ninguém.

- Ele está forçando o portão.

- Solta os cachorros.

- Agora está mexendo na corrente que fecha o portão.

- Solta os cachorros já falei.

- O homem está chacoalhando o portão.

- Chama o Teodoro.

- Hoje é domingo, folga do Teodoro. Esqueceu? O homem está tirando o terno.

- Chama a polícia, deve ser um tarado."

http://comendadorporescrito.blogspot.com/p/cinquenta-anose-agora-1-lugar-no-iv.html

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um crime sem pena - Folhetim via twitter - veja o que aconteceu na terceira semana

11/12 C24- Ivo sentia-se acuado e gaguejou mais de uma vez. PH fechava o cerco. O interrogatório durou 4 hs e acabou de modo surpreendente p/ PH.

10/12 C23- Estou explicando q onde quero ñ posso chegar; me acompanha? Minha esperança é q meu suspeito é inteligente e entenderá. Me acompanha?

9/12 C22- PH prossegue: como delegado responsável p/ inquérito ñ posso fazer isso, vc me acompanha? Ñ entendo onde quer chegar, lamenta-se Ivo

8/12 C21-PH: tenho tantos indícios contra meu suspeito q, se tivesse oportunidade, daria jeito de aconselhá-lo a apresentar-se como réu confesso.

7/12 C20- PH, palito entredentes: Ñ percamos tempo. Nem o teu nem o meu. Se houve 1 crime há 1 criminoso. Tenho um suspeito. Você me acompanha?

6/12 C19- Ivo se sente pressionado e responde: acho q ñ seria humano matar por causa de dinheiro. PH solta uma gargalhada e convida Ivo a entrar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

O menos é mais

Parece que a gente passa a vida sendo confrontado com números e avaliações. Notas na escola, rankings do seu time do coração, número de medalhas ganhas ou perdidas desde a infância, acervo de livros e CDs, graus de especialização profissional e por aí vai.
Outro dia li na capa de uma revista que folheava num consultório médico: Trezentas e cinqüenta dicas para você arrasar nesse verão. Sempre concebi “dicas” como pequenas pérolas; toques preciosos, segredos compartilhados entre grandes amigos, pequenas gotas de sabedoria passadas de pai para filhos. Trezentas e cinqüenta dicas me pareceram um assombro.
Estamos em época de natal e o apelo por mais consumo fica ainda mais truculento. Em casa fizemos uma limpeza nos brinquedos do Léo e nos espantamos com o mundaréu de coisas que ele já tem com apenas cinco anos de idade.
Ligo o rádio e ouço boletins atualizando notícias a cada trinta minutos.
Há pouco nos mudamos para Itu e à medida que encaixotávamos nossas coisas íamos nos espantando: será que a gente precisa mesmo de tudo isso pra viver?
Diariamente fico preso em engarrafamentos abissais e leio nos jornais que a indústria de automóvel vive batendo recordes de produção.
Outro dia apresentei meu espetáculo de palhaço em uma grande empresa em São Paulo Fazemos um jogo no qual recebemos frases escritas colhidas junto à nossa platéia. Uma delas dizia: “vou ficar rico até completar vinte e cinco anos” e outra “quero juntar um milhão de dólares antes dos trinta anos”.
Tiramos do planeta tudo que conseguimos, até nas profundezas do solo enfiamos sondas para sugar mais e mais riquezas. Mineiros morrem soterrados em minas espalhadas pelo mundo.
Isso tudo me remete à tragédia de Sísifo, herói condenado pelos deuses à tarefa inesgotável de todos os dias carregar uma enorme pedra até o topo de um penhasco e vê-la despencando ribanceira abaixo.
Noite dessas, olhei para o céu e ele estava estrelado. Sei que são cem milhões de estrelas só em nossa galáxia. E nossa galáxia é uma perdida entre outros cem milhões de galáxias. Saber que toda aquela imensidão não tem dono e nunca poderá ter devolveu um pouco de paz ao meu espírito e fui dormir com um sorrisinho besta de canto de boca.
Na manhã seguinte, quase engasguei e por pouco não cuspi o gole de café com leite que acabava de saborear ao ler no jornal que o homem já tem data para sua primeira viagem tripulada a marte.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Espelho meu, existe alguém mais feio do que eu?



















Existem informações que estão disponíveis o tempo todo, mas ajo como se não as visse. Me envergonho mas não o suficiente para mudar minha atitude.
Um; dois; três; quatro; cinco.A cada cinco segundos uma criança morre de fome no mundo.
Quando não há o que comer, o corpo entra em um ciclo vicioso: a falta de alimento gera falta de energia e fadiga. Ao perder as forças a pessoa perde a vontade de comer, deixa de se mexer e até de falar. Seu estômago atrofia o que faz com que os mecanismos reguladores da fome deixem de funcionar, por isso crianças desnutridas acabam ficando desidratadas. A pele ressecada se abre em feridas que irão infeccionar, o músculo atrofiado dói a qualquer movimento e o tubo digestivo é atacado por fungos, fazendo com que engolir se torne impossível. Sem receber os nutrientes necessários para manter as funções vitais como respiração e batimentos cardíacos, o corpo busca energia na reserva de gordura e nos músculos e modifica suas funções, como o equilíbrio celular. A pessoa tem seus traços emaciados e seus músculos atrofiados. Os cabelos se tornam brancos ou avermelhados.
Agora mesmo cerca de um bilhão de pessoas estão sentindo tudo isso que acabei de falar apesar de a indústria alimentícia produzir alimentos suficientes para abastecer uma vez e meia a população da Terra.
Que coragem é essa que me falta? Até quando serei tão cruel e indiferente ao sofrimento do próximo? Se visse meu filho com fome eu seria capaz das maiores grandezas, sacrifícios e loucuras, como são os filhos dos meus irmãos eu lhes ofereço minha solene indiferença e os entrego aos urubus. E ainda tem gente que não acredita no demônio. É que eles ainda não me conheceram.







segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Um crime sem pena de 29/11 a 04/12

Acompanhe o que aconteceu na primeira novela via twitter durante a semana passada:

04/12 C 18- O delegado PH recebe Ivo na porta da delegacia. Sorridente indaga: vc acha q algum inquilino inadimplente gostaria de ver Ana morta

03/12 C 17-Ivo acolhe Ida.Dizem no bairro q a morte de Ana foi criminosa, provavelmnte algum inquilino perdulário.Ivo irá depor na manhã seguinte

02/12 C16 - Ida conta onde esteve p/ 15 dias e desculpa-se p/ sumiço. Ivo a abraça e chora. Ida visitou seu irmão + velho mas foi mandada de volta

01/12 C 15 - Ivo deve comparecer à delegacia p/ depor. Suas ideias estão em rebuliço. Ida, doente e chorando, toca a campainha. Ivo a faz entrar.

30/11 C 14 - Investigações preliminares indicam q houve envenenamento, resta saber se foi criminoso ou acidental. Chega um aintimação para Ivo.

29/11 C 13 - Uma filha de Ana avisa, via fone, q a velha foi encontrada morta em seu apê. Há suspeita de envenenamento. Ivo pergunta s/ o enterro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Subvertendo protocolos



Às vezes fico pensando como seria a vida se rompêssemos certas regras pré –estabelecidas. Nem falo de revolução, povo em armas ou guerrilha urbana. Penso no pequeno. Se, por exemplo, respondêssemos de verdade quando nos saúdam com a formalidade de sempre: Oi, como vai? Tudo certo? Se tomássemos essa pergunta como um desejo real de tomar pé da vida do outro eu convidaria meu amigo (?) a sentar-se e lhe diria:


Mudei-me para o interior e só fiz confirmar meu aprendizado de quando tinha vinte e um anos: mudanças trazem bem aventurança. O movimento da mudança, nem importa muito a direção, já revitaliza,oferece novas perspectivas para antigos enquadramentos, sugere possibilidades, confessa preferências esquecidas. Mantém o disco rodando, evita acomodamento. E com os inevitaveis medos e desconfianças a gente aprende a lidar e até que começa a gostar do frisson que causam.

Coincidência ou não a volta ao interior tem duplo sentido. Tenho tempo de conversar com minha companheira mesmo quando não temos assunto. A falta dele traz as bobagens, as tolices e de repente alguém se lembra: Ah, queria te falar uma coisa! Ficamos tanto tempo nesse namoro besta, rindo baixinho para não acordar o Léo, vendo estrela cadente e tirando par ou impar para ver quem vai buscar o suco de goiaba e quando nos damos conta já passamos da hora de dormir faz tempo.

Sem falar da rotina de algazarra do Leó que chega da escola e ja vai pedalar na rua sem medo de ser atropelado e das visitas que, sem nos avisar, ele faz às casas dos amiguinhos e deixa a gente procurando por ele, tocando campainha e recebendo consolo de mães solidárias: Ai, o meu também, vive sumindo.

Acho que agora eu sou isso, um homem do interior.

Parece que agora tenho tempo para decantar-me. Provavelmente depois será bom chacoalhar de novo para misturar tudo outra vez mas aí já estou indo rápido demais, vício antigo sendo diluído em gotas homeopáticas de vida nova.

Toda vez que me sentava em minha cabina, ajeitava minha bagagem e ficava olhando pela janela do trem via aquela cidade desconhecida que já tinha virado familiar sumindo para sabe-se lá quando, provavelmente nunca mais, eu sorria certo das novidades que encontraria em meu próximo destino e mais tarde abandonaria como agora abandonava aquela. Mudar é bom. Eu só tinha vinte e um anos e fiquei marcado para sempre, isso não muda mais e gosto que não mude. É a tal exceção à regra.

Sinto-me como quando uma criança que depois de ficar muito tempo com a cabeça para fora do carro resolve se sentar novamente para curtir a viagem de outra forma. A diferença é que não fico mais perguntando se falta muito para chegar pois já descobri que nunca chegaremos.

E você, como vai?





segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um crime sem pena, o primeiro folhetim via twitter

Segue os capítulos da semana que passou.

27/11 C 12 - Perambula p/ madrugada atrás de Ida. Ninguém sabe da menina. Quase amanhecendo retorna ao seu apê. Lá recebe uma notícia assombrosa


26/11 C 11- Ivo procura Ida e ñ a encontra. Percebe q o apê foi revirado. Preocupado c/ o estado precário da saúde de Ida vai a rua p/ procurá-la.

25/11 C10 - Ivo caminha apressado de volta à sua casa. As mãos suam frias. A respiração ofegante. Assusta ao encontrar a porta do seu apê aberta

24/11 C9 - Ivo se assusta com a campainha, corre até a cozinha e tenta abrir a porta de serviço. Tocam de novo. Ivo foge pela escada dos fundos.

23/11 C8 - Ida acorda no apê de Ivo. Furta um relógio e 2 camisetas. Parte antes q Ivo volte. Ainda doente retorna ao farol onde conheceu Ivo.

22/11 C7 - Ivo revira o apê. Passa 10 minutos na cozinha e descobre uma caixinha cheia de $ no armário da velha. Alguém toca a campainha, de novo.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Tem conto novo

Acabo de postar um novo conto.
Chama-se "Um caso de corporativismo. Um caso"
Abaixo segue um "tira-gosto":

"Seu Renato, sempre vestido impecavelmente, era um homem metódico. Um homem metódico. Marido exemplar. Era comentário geral a elegância de seu Renato. Poucos sabem colocar a camisa por dentro da calça como ele. Um perito. Sempre bem passadas. Perito. Um perito. Nenhum vinco fora de lugar. Mantinha como um tesouro a sua coleção de camisas. Todas beges. Beges.
Há meses uma coisa o intrigava: ao descer as escadas que o conduziam à calçada topava, cotidianamente, com um estranho prato de plástico preto com água pela metade. Parecia provocação de alguém. Provocação de alguém. O prato, mesmo depois de ser esvaziado e recolocado em seu devido lugar, amanhecia obstruindo o caminho do síndico, sempre com água pela metade. Com água pela metade.
As coisas estavam ficando insuportáveis a ponto de seu Renato convocar uma reunião com todos os funcionários do condomínio. Insuportáveis."
 Quer continuar? Esse conto está disponível na coluna "contos", abaixo, à direita.
Boa leitura.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nomes proféticos







Cada vez mais acredito menos em coincidências, o que sei, não significa nada. Escrevo isso só para tentar justificar uma brincadeira que fiz. Fiquei imaginando em que medida somos o que somos em função de nosso nome. Afinal nosso nome é nossa identificação máxima. Quando recebemos cartas, quando procuramos nosso nome numa lista ou assinamos um cheque o desenho do nosso nome é a coisa mais familiar do mundo, deixa de ser um conjunto de letras associadas segundo regras fonéticas para ser uma coisa só, um símbolo de nós mesmos.
Dando corda a esse devaneio brinquei de decifrador de destinos a partir unicamente dos nomes das pessoas. Se der certo posso até abrir uma tendinha lá na Matriz. A quem interessar, basta enviar-me seu nome que direi seu destino. Abaixo segue uma lista de clientes satisfeitos.
Iris é oculista;
Amado ganhou mais um fã clube;
Flora estuda botânica;
Eugênio sempre foi um narcisista;
Lindomar entrou para a marinha;
Caio levou um tombo;
Glória sagrou-se campeã;
Margarida, Hortência e Rosa têm uma floricultura;
Omar mudou-se para o litoral;
Eudes publicou uma autobiografia;
Caim chutou um cachorro;
Aguiar é motorista;
Mercedes é linda, uma máquina;
Serena dá cursos de meditação;
Jurema adora ervilha
e eu agradeço tua leitura.


domingo, 21 de novembro de 2010

Um crime sem pena - de 15 a 20/11

Segue os capítulos da semana da primeira novela via Twitter - Um crime sem pena

20/11 C6- 5 lances de escada e a faquinha. Entra. O cheiro da velha. Aceita seu ódio p/ ela. O cheiro. Na lista de inquilinos lê: "Ivo-lixo".
19/11 C5- Ivo, caminha p/ casa de Ana. Rumina uma ideia: decisões drásticas nos tornam donos de nossos destinos. Se convence disso. Chega enfim
18/11 C4-Ida, 5, órfã é escravizada p/ mãe de rua. Doente e faminta comove Ivo. Ele a trata e ela adormece. Ivo, perturbado, retoma seu plano.
17/11 C 3: Rumo ao apto de Ana, Ivo encontra Ida, 5, doente e moradora de rua. A menina conta sua história a Ivo q se comove e leva-a p/ sua casa.
16/11 Cap 2: Ivo acha Ana uma velha mercenária e avarenta. Para Ana, Ivo não passa de um vagabundo desempregado. A velha mora só e Ivo sabe disso
15/11 Ivo, 27, desempregado, deve 6 meses de aluguel. Ana. 83, viúva, vive do $ desse aluguel. Situação insustentável. Ivo tem 1 plano abominável.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Um crime sem pena - Folhetim via twitter


Acabo de começar um folhetim via twitter. Serão capítulos diários, enviados entre 20 e 21hs.
Aqui no blog trarei, semanalmete, o conteúdo da semana que passou.

08/11- Crime, suspense, emoção. O primeiro folhetim via twitter está chegando. Em breve. Divulgue, ReTuíte.

09/11- Um crime, um suspeito, nenhum motivo. Dia 15/11 começa o primeiro folhetim via twitter da história.

10/11- Um encontro com uma garota de cinco anos pode mudar a sua vida. Dia 15/11 no primeiro folhetim via twitter. Aguarde.

11/11- Um investigador dissimulado vai deixar o criminoso em pânico. "Será q ele já sabe q fui eu?" Dia 15/11 no primeiro folhetim via twitter.

12/11- De segunda a sexta um novo capítulo a cada dia. Por quanto tempo pode durar um crime perfeito? Dia 15/11 no primeiro folhetim via twitter.

13/11 - Uma garota de cinco anos precisa salvar um assassino. A partir do dia 15/11 no primeiro folhetim via twitter. Está chegando a hora!

15/11 - Um crime sem pena - O 1º folhetim via twitter está começando hoje. Será 1 cap. diário de segunda a sáb. Em seguida vc vai receber o 1º cap

15/11 Cap 1:Ivo, 27, desempregado, deve 6 meses de aluguel. Ana. 83, viúva, vive do $ desse aluguel. Situação insustentável. Ivo tem 1 plano abominável.

16/11 Cap 2:Ivo acha Ana uma velha mercenária e avarenta. Para Ana, Ivo não passa de um vagabundo desempregado. A velha mora só e Ivo sabe disso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Alta tensão



















O portão da Light era de ferro,
cada gol que a criançada fazia
gerava um estrondo tão forte
que acordava o vizinho.
Sua presença furiosa no portão
nos deixava em estado de choque.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Alívio

Qualquer amor, por menor que seja,
é já como uma bóia lançada na direção
da multidão de náufragos agonizantes,
um sentido provisório para a existência absurda.

sábado, 16 de outubro de 2010

Pau que nasce torto

Seu Esteves foi várias vezes expulso de casa pela mulher e pelos filhos. Sempre dava um jeito de voltar até que um dos filhos fez uma queixa na polícia e o pai foi preso. Passados dez dias preso nunca mais voltou a molestar a família, só aparecia vez em quando para mendigar um prato de comida. Se um dos filhos chegasse, seu Esteves largava a comida e saia correndo com medo de ser denunciado novamente. Numa noite de natal, o velho tomou coragem, reapareceu na casa, encarou os filhos e a mulher e disse: seu pai é um ignorante, um bêbado, um desocupado, mas não é cachorro pra ser enxotado de casa numa noite de natal. Os filhos e a mulher sentiram pena e deixaram o velho participar da ceia. Seu Esteves se portou tão bem que deram uma nova chance a ele. Durou até o carnaval.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eu


Ai! Que nunca estou a salvo
dessa queda sem fim
que não encontra o alvo
e nunca me derruba em mim.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Um conto de natal



Magda está de dieta. Ninguém da família sabe, afinal todos dizem que ela já está muito magra e ninguém concordaria com uma dieta para uma menina com treze anos que pesa quarenta e cinco quilos. Seu presente de natal será um DVD de um desses grupos de jovens adolescentes que se revezam no primeiro lugar das paradas de sucesso. Seus pais prepararam uma linda festa de natal, com presépio, ceia, amigo secreto e papai Noel. Bem na hora que o bom velhinho chegou, Magda estava vomitando no banheiro. Magda estava pensando em se matar, mas como o pai avisou que o Papai Noel já estava indo embora a menina arrumou o cabelo, ajeitou a roupa e voltou, abraçada ao pai, para a festa de natal. Por sorte, chegou a tempo de receber das mãos do papai Noel seu DVD novo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A tarada do elevador


Dona Mercedes já estava muito próxima, apenas algumas poucas quadras, dois, talvez três, faróis e chegaria ao local de sua tão temida entrevista. Entre um cruzamento e outro conferia a sua aparência no retrovisor para logo em seguida ajustar o espelho à função original. A leve chuva que caia tornava o trânsito ainda mais lento do que o habitual. Parada no farol Dona Mercedes checou sua roupa, passou a mão nos ombros para limpar a caspa, coisa que ela nunca teve, mas sempre receou ter. Suspirou fundo. Ergueu e soltou os ombros buscando relaxar um pouco. Buzinaram. Ai, que povo mais sem paciência, pensou dona Mercedes à medida que punha o carro em movimento. Num ato impulsivo e libertário afrouxou o cinto de suas calças. Soltou a barriga e deu um longo suspiro de alívio. Ufa!

Finalmente chegou ao destino. Dez minutos antes do combinado. Bom sinal. Por sorte o prédio ficava ao lado de um estacionamento. Entregou a chave do carro ao manobrista, deu uma última olhada no retrovisor e desceu. O manobrista aguardava indiferente, tomou a chave em suas mãos e entregou o tíquete à dona Mercedes.
A entrada do prédio era suntuosa. Erregê, cepeéfi, foto, nome, destino. Uma verdadeira operação de guerra só para entrar no prédio, depois ainda viria a entrevista.
Dona Mercedes ainda podia se considerar jovem. Pela sua aparência, seus quarenta e quatro anos de idade poderiam facilmente ser reduzidos a uns trinta e oito, talvez trinta e sete. Estava desempregada já há um ano. Filho criado, separada, dependia muito mais de seu salário do que da pensão irrisória que recebia do ex.
Finalmente o elevador chegou. Ele já veio bem cheio da garagem do andar de baixo.
- Por favor. O rapaz fez um gesto abanando o braço direito e curvando a coluna. Deu passagem à dona Mercedes que agradeceu e procurou o painel com o número dos andares.
- Em qual andar a senhora vai?
- Décimo quarto, por favor.
- Vai no escritório da Irmanos Brothers Consultory?
- Sim senhor.
- Eu trabalho lá.
- Vou fazer uma entrevista.
- Boa sorte.
Essa breve conversa foi seguida por um silêncio constrangido. Dona Mercedes deu dois passos para trás, pois o elevador parou no terceiro andar e entraram mais cinco pessoas. Continuaram a conversa que mantinham enquanto esperavam o elevador.
- Olha, mas essa mancha no rosto não dá nem para perceber.
Todos no elevador, que até então não tinham percebido a mancha no rosto do rapaz, rapidamente identificaram o sinal escurecido ao lado do seu olho direito.
- Nossa, não dá para perceber de jeito nenhum, é bem disfarçada. Eu no seu lugar não faria cirurgia nenhuma. Isso é uma nota e a gente nem sabe se vai ficar bom. Deixa assim que está ótimo, ninguém percebe.
Novo silêncio. O elevador parou no sétimo andar, saíram duas pessoas e entraram mais cinco. No saldo eram três pessoas a mais e dona Mercedes encurralada no fundo do elevador. Pisaram no seu pé.
- Ôps, desculpe.
- Não foi nada.
Os que entraram continuaram a conversa lá de fora.
- Tenho certeza que foi no ano passado. Chamaram até os bombeiros.
- Eu lembro, pois eu fui um dos que foram resgatados pelos bombeiros. Mas não foi no ano passado, imagine, faz muito mais tempo. Os elevadores nem tinham passado ainda pela vistoria.
Quando o elevador parou no décimo andar e dona Mercedes viu mais um grupo de quatro rapazes não teve dúvidas:
- Já está lotado.
- Não, cabe mais um.
- Mas são quatro.
- Ah, mas dá-se um jeitinho. Para tudo tem um jeito.
Todo mundo deu um passinho para trás, menos dona Mercedes que já estava encostada na parede do fundo do elevador.
- Não cabe gente, esse elevador vai cair.
- Cabe sim, pode entrar, tem gente que não colabora, mas dá para entrar sim, dá-se um jeito.
Entraram os quatro rapazes e mais uma senhora que deu uma corridinha antes que a porta do elevador se fechasse.
- Obrigado.
E continuaram o papo lá de fora.
- Eu não pego fila de terceira idade, Deus me livre. Já moro sozinha, não tenho ninguém, se pegar a fila da terceira idade no banco aí que eu não converso com mais ninguém. Encontro tanta gente simpática para conversar. Fila de terceira idade? Não uso mesmo.
Pararam no décimo segundo.
- Gente, pelo amor de Deus, não cabe mais ninguém. Dona Mercedes foi voto vencido.
- Cabe sim, para tudo dá-se um jeito. É só apertar mais um pouquinho.
Entraram.
- Tem gente que só pensa em si.
- Mas é que eu já estou toda amassada.
- Todo mundo está minha senhora.
- Mas eu estou mais, estou aqui no fundo.
Silêncio.
Pararam no décimo terceiro onde desceram duas pessoas.
- Olha, acho que vou descer aqui, eu subo o último lance de escada.
- Esse elevador não dá acesso às escadas.
Finalmente chegaram ao décimo quarto. Dona Mercedes pedia licença, estava aflita e com medo de não conseguir sair.
- Vai descer, vai descer. No afã de não perder o andar dona Mercedes conjugava o verbo como se fosse índio: Vai descer.
Uns saíram do elevador, outros se apertaram, mas todos perceberam que as calças de dona Mercedes estavam caindo. Foi culpa do cinto que ela afrouxou quando ainda estava no carro. Conforme ela ia andando a calça ia descendo. O constrangimento foi geral. Dona Mercedes, com as calças já nos joelhos, atribuía a dificuldade em andar à aglomeração no elevador, não percebeu que suas calças já estavam abaixo dos joelhos.
Quando finalmente saiu do elevador, aqueles que tinham saído para que ela pudesse descer voltaram rindo para o elevador.
Foi só quando já estava fora do elevador e a porta já quase fechada que dona Mercedes deu conta de que suas calças já estavam nos seus pés. Ficou roxa de vergonha, suspendeu as calças e quis sumir. Os que passavam pelo corredor afetavam indiferença, mas o acontecido virou assunto por anos. A mulher que tirou as calças no elevador. Uns diziam que ela se masturbava, uma tarada por aglomerações, outros garantiam que era uma louca totalmente obcecada por sexo.
Dona Mercedes desistiu da entrevista e fugiu pelo elevador dos fundos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Pais e mestres

- Papai, vou na pracinha brincar com os meus amigos. Posso?
Claro que pode. E lá se foi meu filho correndo rumo a sua infância. Eu fiquei com aquele riso meio besta de pai quando percebe o filho feliz.
Antes de ser pai alimentava a fantasia de ser um mestre para o meu filho, aquele cara que diz sempre coisas muito sabias e ponderadas, capaz de resolver as questões mais cabeludas com frases curtas, certeiras e contundentes.
Logo que o Léo chegou essa fantasia começou a cair por terra. Não que ele fosse excepcionalmente especial, era a fantasia que era muito primária embora ele seja realmente especial.
Abri a porta da minha casa e fiquei observando meu filho brincando com seus amigos. Todos mais velhos, uma turminha na faixa de sete-oito anos e o Léo com seus espetaculares cinco anos de idade. Jogavam bola.
Logo observei, com meus olhos de pai, o exercício da crueldade costumeiramente exercida pelos seres mais poderosos sobre os mais frágeis. O Léo ficava correndo atrás da bola como um autista, totalmente alijado da disputa e das brincadeiras, ele era muito mais um estorvo do que um participante. Estava sempre atravessando o caminho de um dos meninos, quase sempre distraído nas raras vezes em que a bola vinha em sua direção e atropelado por um garoto mais afoito.
Tratei de fechar a porta, não teria cabimento me intrometer na brincadeira, meu filho que se virasse, eles que se entendessem pensei, a um só tempo,orgulhoso e surpreso com meu desprendimento.
Confesso que sofria pelo meu filho. Fiquei confabulando mil teorias sobre a natureza humana e seu pendor para o sadismo e a crueldade. A clareza sobre a boa índole dos amiguinhos do Léo só reforçava meu descrédito com a natureza da raça humana. São crianças ótimas, sendo bem educadas, freqüentando boas escolas, vivendo em famílias estruturadas e mesmo assim cruéis. A medida que absolvia as crianças condenava a espécie. Bicho cruel, sádico, mau.
Chegava a hora do almoço, já tinha mudado o assunto de meus pensamentos quando fui a pracinha chamar meu filho para o almoço. No caminho percebi ele totalmente alijado do jogo. Estava agachado apoiado no poste que ilumina apraça.
- Venha, vamos almoçar meu filho.
- Espera papai, não posso sair agora.
Como não podia se estava ali sentado sem fazer nada?
- Não papai, espera, eu não posso.
Ficou em pé meio eufórico para justificar-se:
- Não posso sair agora. Estamos no meio do jogo.
Lamentei pela ingenuidade do garoto, pois era óbvio que ele não participava do jogo, pelo menos era isso que eu pai-sábio imaginava. Foi quando a bola veio em nossa direção e o Léo atirou-se num salto espetacular – para mim foi um salto espetacular – desviando a bola com um tapa providencial. Para que tanto esforço perguntava perplexo comigo mesmo.
- Eles falaram para eu ficar aqui e não deixar a bola quebrar a luminária.
Jogou a bola na direção dos meninos que nem agradeceram e retomaram o jogo. O Léo estava eufórico e ocupado demais para almoçar. Voltou a acocorar-se diante do poste de luz. Enquanto a bola era chutada longe dali ele cutucava uma formiga graúda com um graveto arrancado ali ao lado. Vez por outra espiava o andamento do jogo, punha-se a postos, em pé, olhar atento sempre que a bola fazia menção de aproximar-se para logo retomar a tortura com a formiga. Fiquei deveras surpreso e fascindado com a felicidade do Léo num contexto no qual eu estaria revoltado e teorizando ressentido sobre a condição humana.
Defendi junto a minha companheira e mãe do Léo a idéia de que o menino almoçasse mais tarde, afinal era domingo.
À medida que mastigava refletia sobre a relação entre mestres e aprendizes, evidente que não cheguei a nenhuma conclusão, mas revi alguns conceitos sobre a espécie humana. Incrível como somos aptos a sermos felizes com coisa pouca enquanto ainda estamos deslumbrados diante da vida.
- Vá lavar as mãos antes de comer, elas estão imundas.
- Depois do almoço posso voltar a brincar com meus amigos?
- Claro que pode, eu vou lá com você.
- Não precisa papai.
- Precisa sim, vou lá ver vocês brincarem. Vai ser bom para mim.
- Então tá bom, você pode ir. Você pode cuidar para a bola não ir pra rua.
- Está bem, agora come.

domingo, 5 de setembro de 2010

Devo. Não nego. Pago quando puder

Quando fico feliz por muito tempo me sinto um canalha. Sei que ainda estou em dívida comigo, com o outro e com o mundo. Um brinde às dívidas!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Eureka

Sei que deve parecer ridículo dizer que encontrei a resposta para a pergunta para a qual eu realmente encontrei a resposta. É que tem perguntas para as quais todos sabem não haver resposta. Portanto dizer que se sabe a resposta para essas perguntas é prova de ignorância.Pois todos sabem que não existe resposta. Mas sou palhaço e tenho muito pouco a perder então vou dizer, ou melhor, vou escrever.
Eureka. Finalmente achei a resposta a uma pergunta que me acompanha desde meus doze anos: Qual é o sentido da vida? E incrível! Achei a resposta lendo uma matéria dessas revistas que a gente assina e depois fica em dúvida se deveria mesmo ter assinado.
Descobri que a pergunta está mal formulada. Daí toda a celeuma inesgotável. Depende de qual vida estamos falando. Se for o sentido das nossas vidas então deveríamos perguntar qual é o sentido das nossas vidas. Cada uma terá o seu, não vai ter um sentido padrão. Cada vida terá o seu sentido. Aí tudo fica mais fácil. O sentido da vida é dar um sentido para ela. Se ela já viesse preenchida o que estaríamos fazendo aqui? Seria como dar um quadro pronto a um pintor. Qual a graça de nos entregarem uma vida com sentido pronto? Seríamos réles paus-mandados. Estaríamos aqui só cumprindo ordens.
Voltamos à velha maldição da liberdade.  Em troca de um sentido pré-fabricado nos deram a liberdade para criarmos o sentido das nossas vidas. Mas com a liberdade não tem bode expiatório possível, tudo é responsabilidade sua. Dureza. A falta de sentido pronto leva muita gente à loucura, ao desespero e até ao suicídio, mas é só a falta de sentido que torna suportável e possivelmente boa a vida..
A questão ainda é agravada pela intermediação da linguagem. Ai meu Deus. Ainda essa. Vamos lá: a vida é um conceito e conceitos não existem. As vidas de cada um de nós, essas existem. O sentido da vida que não existe é uma questão insolúvel. O sentido das vidas que existem é problema de cada um.
Como não acredito muito em planejamento, na verdade não acredito quase nada - acho que é pura fantasia de poder – fica difícil traçar um sentido para a vida. Só depois de vivida a vida poderemos saber qual foi seu sentido. Depois de vivida a vida já estaremos mortos. Então só vou saber o sentido da minha vida quando estiver morto. O problema é que desconfio que quando estiver morto eu terei me esquecido da minha vida, então terei que voltar para lembrar qual mesmo tinha sido seu sentido. Aí vou nascer e começar tudo de novo. Qual o sentido disso tudo? Vou ler, vou fazer terapia, vou me apaixonar, vou sofrer, vou rir, vou viajar, vou odiar e quando tiver finalmente uma trajetória com sentido definido terei morrido de novo. Graficamente explicaria assim: a morte é o chapeuzinho deitado que transforma uma reta em uma seta. Então, volto reta e fico esperando um novo chapeuzinho, quando ele chegar eu deixarei de ser reta e viro seta. Morro de novo.
Bem, acabo de me arrumar uma grande tarefa: dar um sentido para a minha vida. Mas eu mesmo escrevi que não acredito em planejamento, então não tem sentido programado possível, logo preciso viver.
Lembro das avós que diziam que “cabeça vazia é a oficina do diabo!”. É nada vovó, cabeça cheia é que é, cabeça fazia não é oficina de ninguém, é férias. É a vida fazendo sentido.
Afinal esse tipo de pergunta nunca aparece para alguém prestes a cobrar um pênalti, para alguém apaixonado ou para um obstetra em trabalho de parto.
Ciao, vou viver.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Vaidade


A vaidade é, segundo o dicionário: qualidade do que é vão, ilusório, instável; presunção; coisa fútil ou insignificante, futilidade, tolice. Na mitologia grega a vaidade levou Narciso ao mergulho suicida.
Os exemplos de estórias que nos apresentam a vaidade como um pecado moral são inúmeros, mas como não pretendo cansar o leitor, paro por aqui.
Para o bem ou pra o mal, desde Einstein, no século passado, tudo no mundo das ciências virou relativo. No mundo da moral, sempre foi!
Teve um episódio vivido na minha épca de Dr da Alegria que é uma prova cabal – sempre gostei desta palavra - do que acabo de afirmar.
Era mais um dia normal de trabalho para o Dr. Comendador Nelson e seu parceiro, o Dr. Lambada. Tudo seguindo a rotina de um dia de trabalho de dois palhaços num hospital. Tropeções, cabeçadas na porta, músicas, pum no elevador e, encontros. Alguns formidáveis como o que segue.
Pela janelinha da porta do quarto - moldura de muitas intervenções dos dois médicos Besteirologistas - avistamos a próxima vítima, digo paciente.
Era uma menina de uns sete ou oito anos. Bonita. Cabelos repartidos entre duas longas tranças cuidadosamente enfeitadas com florezinhas coloridas. Estava sozinha no quarto. Nem acompanhantes, nem parceiros de quarto. Estava sob o lençol, para fora só seu rosto e uma das mãos segurando o lençol como se alguém fosse lhe descobrir a qualquer momento.
Já conhecíamos a menina de outras visitas. Já sabíamos que lhe roubar um sorriso não era tarefa fácil. A menina tinha um ar amargurado de alguém que já sofreu muito e já está quase desistindo. Grosseira não era, sempre educada. Mas cada “obrigada” cordial vinha temperado com um profundo ar de enfado, de cansaço, de desesperança.
Pedimos permissão para entrar no quarto. A menina assentiu com a cabeça sem demonstrar nenhum sentimento com relação à nossa chegada . A menina acompanhava tudo o que os palhaços faziam com um olhar atento e cansado. Colocou a segunda mão para fora do lençol.
O Dr. Lambada arriscou uma música que foi acompanhada por uma coreografia do Dr. Comendador. A menina acompanhou tudo com seu olhar profundamente denso para uma menina de sua idade. Falou alguma coisa que os palhaços não entenderam. Vitória! Ela falou! O Dr. Comendador aproximou-se mais da menina e ela repetiu o que houvera dito:
- Faz as bolhas.
Era lacônica. O Dr. Lambada acompanhou as bolhas de sabão do Dr. Comendador com sua adaptação de “Cai-Cai Balão”. Agora era “Cai-Cai bolhão”.
Os palhaços Besteirologistas acharam que agora a menina sairia de seu auto-exílio, mas que nada! Continuava com seu ar de desesperança. Às vezes, parecia ter noventa anos tamanho era seu cansaço em viver.
Já quase me preparando para sair do quarto arrisquei uma poesia que, como quase tudo, não tocou a menina. O Dr. Lambada fez então uma música de despedida cantando a beleza da menina. Os primeiros versos que falavam da beleza de suas longas tranças foram acompanhados por aquele clássico assobio de pedreiro quando passa uma mulher na frente da obra: fiu-fiu!
O clássico fiu-fiu teve o mesmo efeito da flauta que encanta serpentes na Índia. A menina ajeitou os cabelos, aprumou-se na cama e sorriu. Outro assobio: fiu, fiu. Outro sorriso, recatado é verdade, mas um sorriso. Seus olhos ganharam brilho e, pela primeira vez, ela acenou com a mão despedindo-se dos palhaços galantes.
Pura vaidade!
E quem há de reprová-la?!

sábado, 21 de agosto de 2010

Milagres corriqueiros













Tem certas coisas que acontecem e a gente nem dá bola, são tão corriqueiras e acontecem com tanta freqüência e naturalidade que a gente dá de ombros. Outro dia, assistindo a uma partida de futebol, fiquei abismado ao ver um gol de cabeça. Um cruzamento, o centroavante subiu mais do que a zaga e bola na rede. Trivial não?
Imaginei perplexo a quantidade de cálculos que um jogador deve efetuar para fazer um gol de cabeça como aquele que tinha acabado de assistir:
• Estimar a velocidade e a trajetória da bola que foi cruzada;
• Estimar a distância entre o jogador e a bola;
• Calcular o intervalo de tempo em que a bola chegará ao alcance da cabeça do jogador;
• Estimar o tempo que o jogador levará para saltar até o ponto estimado de contato entre a cabeça do jogador e a bola;
• Calcular força e impulso necessários para executar o salto em direção ao ponto provável onde estará a bola no momento do cabeceio;
• Estimar as trajetórias possíveis para a inevitável ação do goleiro oponente,
• Estimar uma trajetória possível que não tenha nenhum ponto de interseção com aquelas trajetórias possíveis do goleiro oponente;
• Calcular força, ângulos, direções e vetores a fim de fazer a bola chegar ao gol naquele ponto capaz de vencer o goleiro oponente.
Tudo isso deve ser calculado e executado em um segundo.
Só no último campeonato brasileiro foram assinalados mais de cem gols de cabeça por pessoas que não sabem nem se quer a tabuada do quatro. Aqueles mesmos que dão sempre uma única resposta para qualquer pergunta:
- Realmente, o grupo está fechado. O professor orientou a gente, vamos procurar, juntamente com meus companheiros, dar o melhor de si e trazer os três pontos que são tão importantes para a nossa equipe e para essa torcida maravilhosa. Sempre respeitando o adversário por que sabemos que do outro lado tem onze profissionais que merecem nosso respeito.
Não é incrível?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Confissão













Sou ateu mas não consigo rezar o Pai-nosso em grupo.
Choro.
Sempre engulo esse choro,
Meu choro mastigado é minha hóstia particular.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Revirando o baú

Estava fuçando uns textos antigos meus e encontrei um que achei bem atual, me deu vontade de compartilhar.
Aí vai:
                         Como num sonho
O cenário pode ser uma rua movimentada de uma grande metrópole desconhecida. Carros vêm e vão, pessoas anônimas circulando e você fugindo de algum perigo muito ameaçador, desses que, só de pensar, causam frio na barriga. Você tenta correr, mas suas pernas não respondem ao seu comando, elas parecem meio anestesiadas e se movimentam com o peso de uma tonelada. Você continua tentando correr, mas é muito difícil e, de repente, você acorda aliviado.
Todo mundo já sonhou com algo parecido. É uma fantasia que faz parte do inconsciente coletivo e, é a melhor descrição que encontrei para o sintoma da Esclerose Múltipla em mim.
A Esclerose Múltipla é também conhecida por Síndrome da Fadiga Crônica, um nome bem menos cabeludo e muito mais esclarecedor. Em nosso trabalho no hospital, andamos perto de seis horas por dia. Andamos, brincamos, fazemos rotinas besteirológicas, nos movimentamos enfim.
É evidente que me encontrei diante de um problema.
E se eu quiser correr? E se eu não agüentar caminhar até o final do dia? O que eu faço quando precisar descansar no meio do trabalho? Essas são questões que costumavam perturbar meu sono nas noites que antecediam minhas idas aos hospitais. Aprender a conviver com os limites que a Esclerose Múltipla me impõe é uma lição diária, mas quando entrei nos Doutores da Alegria me confrontei com uma outra questão: Eu estou apto a fazer este trabalho com as limitações físicas que a doença me impinge?
Hoje, alguns anos mais velho e dormindo melhor nas noites que antecedem minhas idas aos hospitais, digo que a resposta é sim.
Afinal, se o palhaço é uma espécie de patinho feio, um ser que não se adequa aos padrões da monótona normalidade, por que não poderíamos ter um palhaço que precisasse usar uma bengala e que andasse a passos lentos?
Demorei a entender - entender com a carne e não com a cabeça - que o meu palhaço pode, e deve, ser uma expressão de minha alma. E será tão mais verdadeiro e artisticamente eloqüente, quanto mais revelar quem verdadeiramente sou, com todas as minhas mazelas, imperfeições e desajustes. Afinal, é justamente meu lado torto, revelado sem constrangimentos, que vai fazer de mim um bom palhaço. As pessoas gostam dos palhaços, exatamente por que eles nos lembram que somos imperfeitos, fazemos errado, não temos o corpo escultural das meninas de propaganda de cerveja, não jogamos basquete como o Michael Jordan nem futebol como o Ronaldinho e, nem por isso deixamos de ser lindos, amáveis, apaixonantes.
Não sentimos pena do palhaço que tropeça e cai com a cara no bolo, sentimos inveja da sua falta de compromisso com o acerto, de sua liberdade em fazer errado e continuar feliz.
Todo mundo já sonhou que, de repente, seu corpo fica leve e, como num passe de mágica, começa a voar. Uns precisam balançar os braços como se fossem asas, outros simplesmente saltam e saem voando, outros se atiram de penhascos para voar. Não importa qual o método utilizado, o que importa é que todo mundo já sonhou que é capaz de voar. É um sonho delicioso, desses que nos fazem acordarmos felizes, com a memória de termos sido personagens principais de um conto de fadas..
Sonhar que voamos é mais uma fantasia que faz parte do inconsciente coletivo e, é a melhor descrição que encontrei para a sensação que tive quando entendi - com minha alma e não com minha cabeça - que meu palhaço podia andar devagar, amparado por uma bengala e até se escorar nas paredes de vez em quando e continuar sendo um palhaço.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Palpite

Ando desconfiado de que aquilo que costumamos chamar de "desumano" esteja muito mais para "demasiado humano" do que para desumano. Apesar disso não me sinto envergonhado pela minha espécie. Tampouco me orgulho. As coisas são como elas são e pronto. Optamos por isso a cada instante. Sinto-me responsável pela fome, pelas guerras, pela miséria, pelas obras de arte, pelos gestos de nobreza e pela mesquinharia. E desconfio que isso tudo seja demasiado humano e nada desumano. Somos o possível. Será possível?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quem é o próximo?

Estava na fila da padaria esperando minha vez para comprar os pãezinhos do lanche do fim de tarde. A fila estava grande e a todo o momento as atendentes, empenhadas em dar conta do movimento que só fazia aumentar, perguntavam:

- Quem é o próximo?
Com o barulho e a desatenção de quem está batendo papo com um conhecido que acaba de reencontrar na fila da padoca ninguém ouvia e ela repetia ainda mais alto:
- Quem é o próximo?
Finalmente alguém levantava a mão e dirigia-se a atendente. Quase moto-contínuo outra atendente esticava o pescoço e indagava em alto e bom som:
- Quem é o próximo?
Esta pergunta repetida a exaustão ganhou outro significado para mim que ainda estava no meio da fila. “Quem é o próximo/” não soava mais como “Quem é o subseqüente na fila?”, mas como um mantra a indagar: Afinal, quem é esse próximo de que tanto se fala nos textos religiosos e nas campanhas de televisão pelos desabrigados de algum novo acidente climático? Devemos ajudar ao próximo, parece que todos concordam, mas aquelas meninas da padoca perguntavam:
- Quem é o próximo?
Comentei com a pessoa que aguardava a minha frente:
- O próximo sou eu.
Ela me olhou com ar de quem está diante de um pateta. Antes que ficasse brava e achasse que eu estava querendo furar fila me expliquei, ou tentei:
- A senhora é a próxima, esse sujeito ao seu lado é o próximo, a própria balconista é a próxima.
A mulher desistiu. Virou-se para frente e me ignorou solenemente como quem ignora uma topeira ambulante.
Mas e o tão falado amor ao próximo? Como posso amar alguém que nem sei quem seja?
- Quem é o próximo?
“O próximo” virou quase uma entidade desencarnada, um ente amável, igual a nós e que merece todo respeito e solidariedade embora não exista na vida real, no dia a dia, na fila da padoca.. Quase um fantasma. Agora lembrava que o próximo é o cara de carne e osso que me fecha no trânsito, é o Dunga, o atendente da padoca, o Obama, o pai do Bin Laden, a prima da Regina Duarte e por aí vai.
Lembrei que li há pouco tempo uma matéria em alguma revista ou na internet, já não me lembro, uma informação que me deixou olhando para cima com os dois cantos da boca voltados para baixo como na máscara do choro naqueles emblemas de teatro com um sorrindo e o outro chorando. Estava escrito, e era uma fonte digna de confiança, se é que isso exista, que a maior indústria do Globo é a indústria bélica, a segunda maior a indústria da prostituição e a terceira a industria do narcotráfico. Uau!
- Quem é o próximo?
Aquela atendente de uniforme e gorrinho na cabeça parecia um mestre a indagar:
- Quem é o próximo?
Finalmente chegou minha vez:
- Pois não, já foi atendido?
- Quero oito pãezinhos.
Peguei o pacote, paguei a conta no caixa e, quando me dirigia ao meu carro, um pedinte bem maltrapilho me pediu um cigarro. Respondi que não tinha e expliquei:
- Eu não fumo. Pediu uma moeda. Levei as mãos ao bolso da calça para mostrar-lhe que não tinha moedas. Mas na carteira eu tinha muito mais do que moedas, contudo isso não disse a ele. O pedinte seguiu seu caminho e eu entrei no meu carro com vergonha por sentir-me aliviado em não ter sido assaltado.
“Eis ai o próximo” pensei enquanto dava a partida no carro.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Guerra e paz


Não consigo me acostumar com essa história de enviar torpedo pras pessoas. Que idéia mais cretina. Torpedo?! Aí lembrei que quando a gente vai bem a gente mata a pau; um time bom é um esquadrão; bom desempenho é detonar; ir muito bem é estraçalhar; mulher feia é canhão; um cara forte é um tanque; fracassar é levar pau; responder de bate-pronto é cair matando; um bom palpite é um tiro certo; ser determinado é ser batalhador; ter força de vontade é ser guerreiro; o líder do time é o capitão; más notícias caem como uma bomba; o objetivo é um alvo; um grupo de voluntários é o exército da salvação; num chute na trave a bola explode contra a trave; repetir de ano é levar bomba e a vida é uma batalha.
Fico imaginando um diálogo assim:
- Vamos jantar amor?
- Claro, agora estou ocupada, eu te mando um torpedo confirmando.
Ou então uma de pai para filho:
- Filhão, quando chegar manda um torpedo pro papai.
- Claro, com certeza.
Pode ser também uma de empregado pra patrão:
- Seu Adamastor, o relatório está atrasado, preciso dele para ontem. O que o senhor me diz?
- Pode ir tranqüilo, eu mando um torpedo pro senhor.
Imaginei uma campanha para o dia dos namorados:
- Envie um torpedo a quem você ama.
Ou uma promoção-bomba:
- Nesse natal, ganhe torpedos ilimitados.
Acho que uma campanha dessas arrasaria.
- Tenho uma má notícia: seu filho levou bomba. Mas tenho certeza que no ano que vem ele vai arrebentar.
Socorro, bandeira branca amor, não posso mais.



terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tara santa?

Às vezes sinto vontade de acariciar os cabelos de uma desconhecida.
Já senti isso no ônibus, no cinema, no teatro.
Fico olhando aquela cabeça, me afeiçôo, me enterneço, perco a minha.
Será que isso é amor ao próximo ou tara?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Socorro


Que falta faz um gabarito para a vida.
Viver sem gabarito é quase intolerável.
Que falta nos faz um Deus, um professor, um pai, uma certeza, uma verdade, uma mentira e
todos esses artigos que já me confortaram por tanto tempo.
É tanta liberdade que me perco,
Saudades do cercadinho da infância.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dúvida besta



O que fazer quando perdemos a inquietação que atestava nossa integridade diante da barbárie?

a- ( ) Voltar ao trabalho

b- ( ) Dar um tiro na cabeça

c- ( ) Ir ao cinema

d- ( ) Ler Fernando Pessoa

e- ( ) Pedir uma pizza