terça-feira, 31 de agosto de 2010

Eureka

Sei que deve parecer ridículo dizer que encontrei a resposta para a pergunta para a qual eu realmente encontrei a resposta. É que tem perguntas para as quais todos sabem não haver resposta. Portanto dizer que se sabe a resposta para essas perguntas é prova de ignorância.Pois todos sabem que não existe resposta. Mas sou palhaço e tenho muito pouco a perder então vou dizer, ou melhor, vou escrever.
Eureka. Finalmente achei a resposta a uma pergunta que me acompanha desde meus doze anos: Qual é o sentido da vida? E incrível! Achei a resposta lendo uma matéria dessas revistas que a gente assina e depois fica em dúvida se deveria mesmo ter assinado.
Descobri que a pergunta está mal formulada. Daí toda a celeuma inesgotável. Depende de qual vida estamos falando. Se for o sentido das nossas vidas então deveríamos perguntar qual é o sentido das nossas vidas. Cada uma terá o seu, não vai ter um sentido padrão. Cada vida terá o seu sentido. Aí tudo fica mais fácil. O sentido da vida é dar um sentido para ela. Se ela já viesse preenchida o que estaríamos fazendo aqui? Seria como dar um quadro pronto a um pintor. Qual a graça de nos entregarem uma vida com sentido pronto? Seríamos réles paus-mandados. Estaríamos aqui só cumprindo ordens.
Voltamos à velha maldição da liberdade.  Em troca de um sentido pré-fabricado nos deram a liberdade para criarmos o sentido das nossas vidas. Mas com a liberdade não tem bode expiatório possível, tudo é responsabilidade sua. Dureza. A falta de sentido pronto leva muita gente à loucura, ao desespero e até ao suicídio, mas é só a falta de sentido que torna suportável e possivelmente boa a vida..
A questão ainda é agravada pela intermediação da linguagem. Ai meu Deus. Ainda essa. Vamos lá: a vida é um conceito e conceitos não existem. As vidas de cada um de nós, essas existem. O sentido da vida que não existe é uma questão insolúvel. O sentido das vidas que existem é problema de cada um.
Como não acredito muito em planejamento, na verdade não acredito quase nada - acho que é pura fantasia de poder – fica difícil traçar um sentido para a vida. Só depois de vivida a vida poderemos saber qual foi seu sentido. Depois de vivida a vida já estaremos mortos. Então só vou saber o sentido da minha vida quando estiver morto. O problema é que desconfio que quando estiver morto eu terei me esquecido da minha vida, então terei que voltar para lembrar qual mesmo tinha sido seu sentido. Aí vou nascer e começar tudo de novo. Qual o sentido disso tudo? Vou ler, vou fazer terapia, vou me apaixonar, vou sofrer, vou rir, vou viajar, vou odiar e quando tiver finalmente uma trajetória com sentido definido terei morrido de novo. Graficamente explicaria assim: a morte é o chapeuzinho deitado que transforma uma reta em uma seta. Então, volto reta e fico esperando um novo chapeuzinho, quando ele chegar eu deixarei de ser reta e viro seta. Morro de novo.
Bem, acabo de me arrumar uma grande tarefa: dar um sentido para a minha vida. Mas eu mesmo escrevi que não acredito em planejamento, então não tem sentido programado possível, logo preciso viver.
Lembro das avós que diziam que “cabeça vazia é a oficina do diabo!”. É nada vovó, cabeça cheia é que é, cabeça fazia não é oficina de ninguém, é férias. É a vida fazendo sentido.
Afinal esse tipo de pergunta nunca aparece para alguém prestes a cobrar um pênalti, para alguém apaixonado ou para um obstetra em trabalho de parto.
Ciao, vou viver.