sexta-feira, 30 de julho de 2010

Dúvida besta



O que fazer quando perdemos a inquietação que atestava nossa integridade diante da barbárie?

a- ( ) Voltar ao trabalho

b- ( ) Dar um tiro na cabeça

c- ( ) Ir ao cinema

d- ( ) Ler Fernando Pessoa

e- ( ) Pedir uma pizza

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Redundâncias

Lotação máxima.
Fogueira ardente.
Lembranças do passado.
Projetos para o futuro.
Mania obsessiva.
Guinada radical.
Outra alternativa.
Rotina besta.
Abismo profundo.
Estrela brilhante.
Crime cruel.
Paixão arrebatadora
Falha humana.
Destino atroz.
Vida errante.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eu?

Vira e mexe escuto alguém dizer: “imagine se fossemos todos iguais”. Dizem que seria muito chato e monótono. Será? Numa tarde de ócio fiquei pensando nisso.
Às vezes fico imaginando o que poderia ter sido de mim não fosse eu. Será que eu poderia ser um atleta desses que correm, nadam e andam de bicicleta, e hoje com quarenta e dois anos eu seria um cara com uma saúde e um físico invejáveis?
Ou será que mesmo fisicamente, com as mesmas informações genéticas, eu seria um cara completamente diferente do que sou hoje. Digo completamente mesmo, outra pessoa, outra aparência. Mas seria eu mesmo, só que com outra pessoa tendo vivido a minha vida em meu lugar dentro do meu corpo.
Quantas coisas diferentes, quantas pequenas decisões, quantas atitudes e iniciativas que poderiam ser tomadas a partir de mim, mas que me conduziriam a ser uma pessoa bem diferente da pessoa que sou hoje.
Talvez esse outro cara hipotético dentro de mim estivesse morando na Nova Zelândia, solteiro, pegando ondas. Talvez fosse um executivo de multinacional que teve que se mudar para Nova Iorque. Quem sabe não seria um ator consagrado internacionalmente. Ou um voluntário da Cruz vermelha em algum país da África. Ou um morador de rua, por que não? Um facínora estuprador vivendo no inferno dantesco de uma penitenciária.
O que é essa substância de mim que me fez ser quem eu sou hoje e me colocou diante da tela do computador escrevendo isso que estou escrevendo? Quais reações diferentes poderiam ter mudado o rumo da minha vida drasticamente? A cada segundo fazemos opções, decidimos se tomamos água ou se vamos até à varanda. Uma decisão dessas não modificaria tanto a história de minha vida, mas o tanto de opções, reações e decisões que tomamos a cada momento prosaico de nossas vidas me trouxe até esse meu eu.
Diante dessa reflexão, reconheci que eu poderia ter sido qualquer pessoa mesmo sendo eu. Todas pessoas diferentes de mim em graus variados mas todas eu. Minha estrutura emocional, meu físico, meus relacionamentos, tudo diferente a partir de mim mesmo.
Eu tenho potencial para ser todo mundo. Como se existisse, em estado latente, o mundo todo dentro de mim. Eu posso decidir, agora mesmo, escrever sobre outro assunto. Pensar sobre outras coisas e a partir daí começar a ser outro. Mas se eu fosse outro, o que sou hoje seria o outro hipotético do outro que eu seria. Estou definindo quem sou a cada segundo e são tantos segundos passando sem parar. Pronto, acabo de me definir esse eu provisório. E agora de novo outro eu. Quantos eus potenciais existiram em minha trajetória de vida, desde que nasci até esse segundo que já passou?
Imagine se fossemos todos iguais. Imaginei e cheguei à conclusão que somos todos iguais. Apenas tomamos decisões diferentes umas das outras a cada segundo e isso nos faz parecer tão diferentes. E realmente somos tão diferentes, mas não somos. Nem por isso a vida é sem graça e tediosa como querem dizer que seria quando nos fazem essa proposição: imagine se fossemos todos iguais.
Vou tomar um chazinho. Ou será que vou ler na varanda? Ou tirar uma sonequinha? Ou trabalhar em meu projeto? O que eu faço para ser eu? Não importa, serei eu de todo jeito. O que quer que decida fazer nesse instante eu serei eu e sempre terei deixado de ser outros infinitos eus.
Agora, imagine se fossemos todos diferentes?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A pergunta que não quer calar

Outro dia assisti à uma matéria na televisão mostrando que a moda do molusco vidente começa a se espalhar. Na Austrália, consultaram um polvo sobre o resultado das eleições que ocorrerão em setembro desse ano. O polvo foi direto no candidato do partido trabalhista. A verificar.
Fiquei pensando quais perguntas faria a um polvo supostamente vidente. De cara tiraria uma dúvida que paira sobre toda essa história: Sr Polvo - sei que parece meio infantiloide referir-se ao Polvo usando o “Sr”, mas pelo sim pelo não é melhor respeitar o pernudo – qual a explicação para seus acertos nos prognósticos que tem feito?
Como o animal não responde por extenso, teria que oferecer alternativas para serem colocadas naquelas caixas que são mergulhadas no aquário. A caixa abraçada pelo polvo é considerada o palpite do bicho.
Ofereceria as seguintes alternativas como resposta a essa primeira pergunta:
a) Polvos têm clarividência e b) mero acaso.
Se a resposta fosse a alternativa “b” estaria tudo acabado e o polvo pagaria caro pela sua sinceridade. Se fosse alternativa “a” então eu faria uma verdadeira inquisição ao polvo.
Começaria com perguntas simples cujas alternativas de respostas seriam um simples sim ou não. Mantendo a tradição que deu origem a tudo, perguntaria se o Brasil ganhará a copa de 2014. Na verdade, essa pergunta seria mais para descontrair o molusco do que para saciar uma curiosidade minha.
Então se seguiriam as perguntas cujas respostas realmente me interessam: algum dia cumprirei as promessas que faço no reveillon? Serei contemplado com a bolsa a que estou concorrendo na Funarte? Deus existe? Há vida após a morte? O abacateiro que plantei vai vingar? Existe vida inteligente fora da Terra? E dentro dela?
Se percebesse que o polvo estivesse gostando de responder às perguntas então, aproveitando que polvos têm oito mãos/tentáculos, seguiria aquele ditado que diz “quando a gente dá a mão logo pedem o braço”.
Passaria à segunda fase onde as alternativas de respostas seriam mais elaboradas e exigiriam mais esforço para serem respondidas. Começaria com: alguma mulher com quem transei já fingiu o orgasmo? Respostas: a) óbvio que sim; b) também fico me perguntando isso, sou um polvo macho.
Por que medindo um metro e noventa e pesando apenas setenta e três quilos ainda tenho barriga? a) esse é seu biótipo ou b) Deus é gozador. Dando continuidade à sessão narcísica perguntaria se ficarei completamente careca ou manterei alguma região da cabeça com cabelo. Alternativas a serem oferecidas ao polvo: a) você já está completamente careca ou b) passe limão com mel na cabeça todas as manhãs.
Então passaria às perguntas com caráter mais altruísta: a humanidade caminha em direção a dias melhores? a) não seja tolo ou b) sim, pois pior do que está é impossível.
Caso existam ETs, eles seriam amistosos? a) caso existam?! Ou b) não faço a menor idéia, vivo no mar. Um dia desenvolveremos uma vida mais espiritualizada? Resposta a) não sou supersticioso ou alternativa b) não seja supersticioso.
Para não cansar o Polvo exigindo muito de seus oito cérebros faria só mais algumas perguntas. Afinal, é verdade que misturar vários tipos de bebidas alcoólicas potencializa o porre? a) não, o que interessa é só a quantidade de álcool ingerido ou b) vá plantar batatas. Por que as mulheres são tão indecifráveis? a) Deus é gozador ou b) não sei, já disse que sou um polvo Macho.
Para encerrar, mostraria a ele os sinais do código morse, se é que ele já não conhece, e pediria que fizesse suas considerações finais através de toques no vidro do aquário.
Uma vez li num livro, cujo título não me lembro, que o sábio tem as perguntas certas e não as respostas. Será que o Polvo saberia perguntar? a) com certeza perguntaria melhor do que o autor dessa crônica ou b) claro que sim, afinal a voz do polvo é a voz de deus.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Absurdos

Sempre me admiro com o tamanho das coisas. Anos luz é uma medida quase fictícia. E quando falam bilhões de anos luz?! Bilhões de anos já é um atentado à nossa capacidade de abstração, mas bilhões de anos viajando na velocidade da luz – inacreditáveis trezentos mil km por segundo – já é uma idéia inalcançável. Um absurdo.
Tentei entender o que seja trezentos mil km por segundo. Fiz uns cálculos rápidos para trazer isso para um universo menos lunático. Cheguei à seguinte conclusão: viajando a essa velocidade podemos dar oito voltas em redor da terra a cada segundo. Rápido não? Para viajarmos da Terra ao sol nessa velocidade levaríamos onze minutos.
Essas velocidades astronômicas são usadas para medidas de distâncias ainda mais estapafúrdias. Determinada galáxia está a um milhão de anos luz daqui. Que espaço percorrido é esse? Passar um milhão de anos viajando a trezentos mil km por segundo é uma idéia que me faz achar que físicos e cosmólogos são uma espécie mais criativa do que qualquer criança, escritor ou roteirista de Hollywood.
Dizem, com a maior naturalidade, que existem mais estrelas no universo do que grãos de areia em todas as praias do planeta. Quanto castelinho de areia eu fiz sem saber que estava empilhando estrelas.
Aí vem a copa do mundo e penso que ficarei mais tranqüilo, menos atônito até chegar aquele polvo alemão e me atormentar a cabeça. O bicho acertou sete prognósticos. É verdade que pode ser considerado um caso de sorte, afinal são cinqüenta por cento de chance de acertar. Mas fiz um cálculo rápido: aquele bicho cheio de pernas acertou sete prognósticos. Se cada prognóstico tinha cinqüenta por cento de chance de estar correto, a chance de acertar os sete é de menos de um por cento. É de 0,78%. Mas o polvo acertou. Absurdo.
Sorte? Ou o quê? Vai dizer que o polvo tem capacidade de ver o futuro? Se for apenas sorte, estamos do mesmo modo diante de outro fato assombroso. Afinal 0,78% de chance é uma probabilidade bem pequena. Se bem que todo mês alguém acerta os seis números da mega-sena e isso é ainda mais improvável de acontecer, mas acontece.
Ontem assisti a um programa de televisão onde o apresentador tentava explicar o que poderia ser a quarta dimensão. Fui dormir sem entender.
Quando era pequeno eu ficava imaginando que a humanidade inteira poderia ser como uma colônia de bactérias que viviam no intestino de um gigante, e que existiam tantos gigantes quanto a população do mundo e tantos mundos iguais ao nosso no intestino de cada gigante. E dentro de nossos intestinos outros mundos para os quais nós seríamos os tais gigantes. E nunca contava isso a ninguém por achar muito absurdo. Quanta ingenuidade.

domingo, 18 de julho de 2010

Vida interior


 
Que tal um quintal
Com mil gramas de gramas
O im possível em possível
Pra gente deitar e rolar?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Paixão

Olha prá frente!
Escova o dente!
Presta atenção.
E a lição?
Come direito.
Você está atrasado!
Olha o respeito!
Mas está todo borrado
Tá rindo do quê?
Cadê o bilhete?
Chega de beber.
Chegou mais um ramalhete.
Outro presente.
Nossa!
Acabou tão de repente.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Centopeia semântica

Ao pé da letra.
Pé na orelha.
Pé ante pé.
Pé de laranja.
Pé de manga.
Pé de goiaba.
Pé de cabra.
Pé frio.
Pé quente.
Pé direito alto.
Pé de gancho.
Ficar no pé.
Tomar pé da situação.
Pé de valsa.
Pé rapado.
Pé de chinelo.
Pé de meia.
Ao pé do ouvido.
Levantar com o pé esquerdo.
Começar com o pé direito.
Dar pé.
Aos pés do altar.
Pé de chumbo.
Pé na estrada.
Enfiar o pé na jaca.
Meter o pé na lama.
Meter os pés pelas mãos.
Aos pés da montanha.
Arrasta pé.
Ficar com o pé atrás.
Fulano não chega aos pés de cicrano.
Pé de moleque.
Fincar o pé.
Pé de boi
Pé de pato.
Pé d’água.
Roda pé.
Pés de galinha.
Os pés descalços.
Pé na bunda.
Com o pé na porta.
Tripé.
Busca-pé.
Pé de anjo.
Pé de moça.
Contrapé.
Com um pé nas costas.
Pé na tábua.
Pé de vento
Dar no pé.
Sem pé nem cabeça.

sábado, 10 de julho de 2010

Procura-se um trem

Para trajetórias incertas temos a lição de Ariadne: um singelo novelo de lã. Acho que perdi o meu.
Não identifico onde ficou a matriz livre das recusas, onde se perdeu o fio da meada, e as linhas já se embaraçaram tanto que restou só um grande nó.
Gostaria que as coisas fossem mais simples como quando eu jogava pedras do outro lado da linha do trem. A gente só parava quando vinha o trem, e parar era o ápice da aventura, afinal era quando o trem passava. Evento máximo daquelas tardes. O trem passava pesado, robusto, sério e nós ficávamos esperando sua passagem para voltarmos a lançar as pedras para o outro lado da linha.
Imediatamente após a sua passagem ficavam alguns segundos de eternidade antes de retomarmos a inútil aventura do lançamento das pedras. Durante aqueles segundos éramos visitados por uma perplexidade diante do mundo, aquele trem era muito grande, muito pesado, muito barulhento, não podíamos nada contra ele, só nos cabia a resignação. Nossos olhares imóveis eram a confissão de nossa derrota. A pedra na mão fechada e suada era nossa melhor cúmplice.
Um dia atirei a pedra no trem. Ninguém disse nada. Teria feito algo muito horrível. De onde veio aquela coragem? Rapidamente minha prima atirou suas pedras também. O barulho do trem era tão alto que as pedras ficaram mudas, só uma poeira da explosão delas contra os vagões encardidos. Ficamos exultantes com nossa façanha, não falamos nada muito embora, no íntimo, soubéssemos que tínhamos feito algo grandioso.
Depois daquela tarde, atirar pedras do outro lado da linha não tinha mais tanta graça, fomos procurar outras coisas. Minha prima Claudia virou atleta e mora no Canadá e eu virei palhaço. Não encontrei mais as pedras perfeitas para serem atiradas. As melhores eram aquelas arredondadas, nem muito grandes nem muito pequenas. Tinham algumas que eram lindas, tão lindas que devolvíamos ao chão, não mereciam ser atiradas. Eram recolocadas em seu santuário de areia vermelha, fina, restos das cerâmicas. Trem já não existe mais.
A vida me colocou de novo a beira da estrada de ferro, e isso é um presente tão encantado quanto os pacotes que papai Noel me trazia nas noites de natal; só que agora não encontro mais a matéria da qual é feita a ousadia, quero ousar mas não sei como, quero me arriscar mas não sei onde, quero atirar mais pedras no trem. Pedras inofensivas como aquelas de minha infância; tão libertadoras, tão ousadas, tão sensuais.
O trem está de novo lá, enorme, barulhento, encardido e parece que tem tantos vagões que não quer acabar de passar nunca, só que ficou transparente, as pedras atiradas, nas raras vezes que as encontro, não explodem mais contra sua lataria, elas o atravessam e somem do outro lado.
O mundo sofisticou-se; não é mais feito de pedras no chão e trens encardidos, e minha prima mora na distante e gelada Toronto.
Os caminhos das minhas trajetórias me trouxeram até esse ponto. O bom é que agora tenho urgência, a mesma urgência do moleque com a pedra na mão. A pedra virou meu nariz vermelho, falta reinventar a ousadia e devolver o corpo ao trem-fantasma.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Ricardo e Mariana foram a uma festa Junina. Narciso e Paola também. Os dois casais não se conheciam. A festa estava animada, com todos os ingredientes de uma típica festa que se diz junina. Quentão, pinhão, cachorro quente, barraca da pescaria, prisão, quadrilha, fogueira e correio elegante."
Essa é uma parte de minha última crônica publicada, para saber como a história continuou, clique no link abaixo e boa leitura.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Olha a boca menino!

"Posso assegurar ao leitor que isso de olhar o mundo com o frescor do estranhamento não é nenhuma promessa nem tão pouco acredito seja praga de algum desafeto; é, pura e simplesmente, um jeito de olhar; o meu jeito.

Percebo que isso às vezes pode dar a impressão de que almejo ser um polemista, falsa impressão; nunca almejei ser um polemista. Contudo, reconheço que o mundo no qual vivemos é polêmico."
Esse é um trecho da última crônica que publiquei em minha coluna, quem ficou curioso e quiser terminar a leitura, basta clicar no link abaixo:
Boa leitura

sábado, 3 de julho de 2010

Tentação


Li que igreja já aceita pagamento do dízimo via cartão de crédito.
Há muito entrega bênçãos via satélite.
Pelo andar do cortejo
vai ter delivery de hóstia,
confessionário virtual,
venda de senha para o juízo final e,
porta giratória com detector de metais
para se entrar no céu.
Começo a pensar no inferno
como uma opção tentadora.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Será que sonhei?


Estava olhando para o céu estrelado dessas noites de inverno. Coalhado de estrelas. Vi duas cadentes. Esqueci de fazer os pedidos, mas lembrei-me de ter assistido Avatar, Blade runner, ET, Contatos Imediatos do Terceiro Grau e a série completa de Guerra nas Estrelas. Com tudo isso, tive muita vontade de fazer uma crônica de ficção científica. Não me lembro se escrevi ou se sonhei com o relatório que segue.
http://www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=23850&adm=1