segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Declaração planetária dos Deveres humanos

Andei quase dois meses sem escrever aqui no blog. Retomo publicando a última crônica de minha coluna fixa no site itu.com.
                           
                                 Declaração planetária dos Deveres humanos
Já faz tempo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos tornou-se bandeira e tema de discussões acaloradas, principalmente quando se fala de violência. Aí vem aqueles truculentos falar em direitos humanos dos bandidos e das vítimas, como se não estivessem todos englobados na categoria “humanos”. Mas não é sobre esse debate que gostaria de escrever.
É que li uma frase do escritor José Saramago e minha identificação foi tão grande que me obriguei a tentar passar essa idéia adiante. Ele diz que a humanidade fala muito dos direitos humanos, mas se esqueceu de falar sobre os deveres humanos. Ôpa, já acendeu uma luzinha indicando a existência de sabedoria por perto. Logo adiante, Saramago afirma que esses são sempre deveres em relação ao outro, sobretudo. Mais adiante, ele é ainda mais claro: “Temos que acreditar nalguma coisa, e sobretudo temos de ter um sentimento de responsabilidade coletiva, segundo o qual cada um de nós seja responsável por todos os outros.” Quanta lucidez.
Então fiquei pensando, em comparação à declaração universal dos direitos humanos, o que seria essa declaração dos deveres humanos. Comecei rebaixando-a de universal para planetária. Muita prepotência falar em declaração universal à partir desse minúsculo planeta situado num sistema solar na periferia de uma entre cem milhões de galáxias. Sejamos menos megalomaníacos e vamos de declaração planetária, coisa que já é muito, tanto que as guerras não cessam nunca. Evidente que o mandamento número um seria esse do Saramago, esse que fala da responsabilidade coletiva, segundo a qual cada um de nós é responsável por todos os outros. Teríamos que encontrar uma forma mais concisa do tipo:
1. Somos todos responsáveis por todos.
Ficou sem dúvida menos poético, mas tem mais cara de documento. Aí fiquei pensando nos outros deveres. Pensei muito e só encontrei um. Seria algo do tipo:
2. O ser humano não deve fazer ao próximo aquilo que ele não gostaria que fizessem a ele.
Pronto. Uma declaração simples, concisa, com apenas dois princípios. Depois fiquei imaginando se seríamos capazes de cumprir esses dois únicos princípios da Declaração Planetária dos Deveres Humanos. Tão pouco, tão simples. Acredito que consigamos. Então agora seria preciso dar a esses dois princípios o mesmo estatuto que a Declaração Universal dos Direitos Humanos conquistou.
Sei que almejar a isso é ridículo mas sou palhaço e palhaços são ridículos. E já que comecei citando Saramago concluo com ele: "...sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir."