Vira e mexe escuto alguém dizer: “imagine se fossemos todos iguais”. Dizem que seria muito chato e monótono. Será? Numa tarde de ócio fiquei pensando nisso.
Às vezes fico imaginando o que poderia ter sido de mim não fosse eu. Será que eu poderia ser um atleta desses que correm, nadam e andam de bicicleta, e hoje com quarenta e dois anos eu seria um cara com uma saúde e um físico invejáveis?
Ou será que mesmo fisicamente, com as mesmas informações genéticas, eu seria um cara completamente diferente do que sou hoje. Digo completamente mesmo, outra pessoa, outra aparência. Mas seria eu mesmo, só que com outra pessoa tendo vivido a minha vida em meu lugar dentro do meu corpo.
Talvez esse outro cara hipotético dentro de mim estivesse morando na Nova Zelândia, solteiro, pegando ondas. Talvez fosse um executivo de multinacional que teve que se mudar para Nova Iorque. Quem sabe não seria um ator consagrado internacionalmente. Ou um voluntário da Cruz vermelha em algum país da África. Ou um morador de rua, por que não? Um facínora estuprador vivendo no inferno dantesco de uma penitenciária.
O que é essa substância de mim que me fez ser quem eu sou hoje e me colocou diante da tela do computador escrevendo isso que estou escrevendo? Quais reações diferentes poderiam ter mudado o rumo da minha vida drasticamente? A cada segundo fazemos opções, decidimos se tomamos água ou se vamos até à varanda. Uma decisão dessas não modificaria tanto a história de minha vida, mas o tanto de opções, reações e decisões que tomamos a cada momento prosaico de nossas vidas me trouxe até esse meu eu.
Diante dessa reflexão, reconheci que eu poderia ter sido qualquer pessoa mesmo sendo eu. Todas pessoas diferentes de mim em graus variados mas todas eu. Minha estrutura emocional, meu físico, meus relacionamentos, tudo diferente a partir de mim mesmo.
Eu tenho potencial para ser todo mundo. Como se existisse, em estado latente, o mundo todo dentro de mim. Eu posso decidir, agora mesmo, escrever sobre outro assunto. Pensar sobre outras coisas e a partir daí começar a ser outro. Mas se eu fosse outro, o que sou hoje seria o outro hipotético do outro que eu seria. Estou definindo quem sou a cada segundo e são tantos segundos passando sem parar. Pronto, acabo de me definir esse eu provisório. E agora de novo outro eu. Quantos eus potenciais existiram em minha trajetória de vida, desde que nasci até esse segundo que já passou?
Imagine se fossemos todos iguais. Imaginei e cheguei à conclusão que somos todos iguais. Apenas tomamos decisões diferentes umas das outras a cada segundo e isso nos faz parecer tão diferentes. E realmente somos tão diferentes, mas não somos. Nem por isso a vida é sem graça e tediosa como querem dizer que seria quando nos fazem essa proposição: imagine se fossemos todos iguais.
Vou tomar um chazinho. Ou será que vou ler na varanda? Ou tirar uma sonequinha? Ou trabalhar em meu projeto? O que eu faço para ser eu? Não importa, serei eu de todo jeito. O que quer que decida fazer nesse instante eu serei eu e sempre terei deixado de ser outros infinitos eus.
Agora, imagine se fossemos todos diferentes?