quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Subvertendo protocolos



Às vezes fico pensando como seria a vida se rompêssemos certas regras pré –estabelecidas. Nem falo de revolução, povo em armas ou guerrilha urbana. Penso no pequeno. Se, por exemplo, respondêssemos de verdade quando nos saúdam com a formalidade de sempre: Oi, como vai? Tudo certo? Se tomássemos essa pergunta como um desejo real de tomar pé da vida do outro eu convidaria meu amigo (?) a sentar-se e lhe diria:


Mudei-me para o interior e só fiz confirmar meu aprendizado de quando tinha vinte e um anos: mudanças trazem bem aventurança. O movimento da mudança, nem importa muito a direção, já revitaliza,oferece novas perspectivas para antigos enquadramentos, sugere possibilidades, confessa preferências esquecidas. Mantém o disco rodando, evita acomodamento. E com os inevitaveis medos e desconfianças a gente aprende a lidar e até que começa a gostar do frisson que causam.

Coincidência ou não a volta ao interior tem duplo sentido. Tenho tempo de conversar com minha companheira mesmo quando não temos assunto. A falta dele traz as bobagens, as tolices e de repente alguém se lembra: Ah, queria te falar uma coisa! Ficamos tanto tempo nesse namoro besta, rindo baixinho para não acordar o Léo, vendo estrela cadente e tirando par ou impar para ver quem vai buscar o suco de goiaba e quando nos damos conta já passamos da hora de dormir faz tempo.

Sem falar da rotina de algazarra do Leó que chega da escola e ja vai pedalar na rua sem medo de ser atropelado e das visitas que, sem nos avisar, ele faz às casas dos amiguinhos e deixa a gente procurando por ele, tocando campainha e recebendo consolo de mães solidárias: Ai, o meu também, vive sumindo.

Acho que agora eu sou isso, um homem do interior.

Parece que agora tenho tempo para decantar-me. Provavelmente depois será bom chacoalhar de novo para misturar tudo outra vez mas aí já estou indo rápido demais, vício antigo sendo diluído em gotas homeopáticas de vida nova.

Toda vez que me sentava em minha cabina, ajeitava minha bagagem e ficava olhando pela janela do trem via aquela cidade desconhecida que já tinha virado familiar sumindo para sabe-se lá quando, provavelmente nunca mais, eu sorria certo das novidades que encontraria em meu próximo destino e mais tarde abandonaria como agora abandonava aquela. Mudar é bom. Eu só tinha vinte e um anos e fiquei marcado para sempre, isso não muda mais e gosto que não mude. É a tal exceção à regra.

Sinto-me como quando uma criança que depois de ficar muito tempo com a cabeça para fora do carro resolve se sentar novamente para curtir a viagem de outra forma. A diferença é que não fico mais perguntando se falta muito para chegar pois já descobri que nunca chegaremos.

E você, como vai?