Antes eu viatudo.
Hoje eu viaduto.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Itaú, feito para você que não é deficiente
Sigo minha militância-crônica pelo respeito ao básico direito à acessibilidade.
Aquelas propagandas de banco, com musiquetas suaves, sorrisos largos, bichinhos muito fofos e abraços emocionadíssimos só engana àquele tipo de gente que ainda acredita em papai Noel. Estamos carecas de saber que eles nos esfolam até a alma. Ou melhor, até o último centavo, pois alma não tem liquidez e por isso não lhes interessa. Não vou gastar papel nem tempo para chutar cachorro morto.
Toda vez que vou à agência do Itaú, uma que fica ao lado da igreja da matriz, saio de lá decidido a escrever uma crônica. Depois as miudezas do cotidiano acabam me chamando, me acalmo, tenho que buscar filho na escola, por água no filtro, responder um e-mail e a coisa esfria. Nessa semana foi diferente. Por isso estou aqui.
Não existe acesso sem escada nessa agência do Itaú no largo da matriz. Para quem é portador de necessidades especiais, como eu, que sofro de esclerose múltipla há vinte e três anos e caminho com o auxílio de duas bengalas, isso é sim um caso revoltante.
Até semana passada, tinha um adesivo de cadeirante numa porta de vidro na entrada lateral pela rua Barão de Itaim. Só que a porta ficava trancada. Por isso, o infeliz, no caso eu, que desejasse utilizá-la, deveria ficar batendo no vidro até que alguém, lá dentro, escutasse. Aí colava meu rosto no vidro e ficava berrando que queria entrar. Óbvio. Aí então alguém, lá de dentro, fazia um sinal para eu esperar. Mal sabia que já esperava há mais de cinco minutos, e sob o sol escaldante desta cidade. Aí aquela boa alma ia procurar com quem estavam as chaves. Mais cinco minutos torrando sob o sol. Só então alguém abria a porta e sorria para mim.
- Prontinho, senhor.
Na última vez que tive o desprazer de ir até a tal agência, descobri que tinham retirado o tal adesivo de cadeirante da porta lateral. Acho que resolveram assumir que estão pouco se lixando para essa frescura de acessibilidade.
Então, a duras penas, entrei na agência pelas escadas de degraus larguíssimos. Depois de encerrado meu assunto com minha gerente, disse a ela sobre a falta de acessibilidade da agência. Ela então me respondeu que da próxima vez bastaria eu fazer uma ligação a ela para que abrisse a porta lateral para mim. Simples assim. Ela abriria a porta lateral para eu entrar. Bastaria um telefonema. Quanta gentileza.
Essa gente não entende nada. Não mendigo favores, exijo direitos! A agência tem que oferecer, a mim e a todos os portadores de necessidades especiais, condições para que possamos entrar e sair de lá para que eles nos esfolem com seus juros escorchantes e depois nos apertem a mão com aqueles sorrisos pré-pagos.
Por incrível que pareça, acessibilidade é uma conquista básica ainda não assegurada. E não estou falando de um restaurante de fundo de quintal, estou falando da maior instituição bancária do hemisfério sul.
Quem cuida dessa vergonha? Qual instância do poder público deveria se ocupar disso? Alguém sabe? Eu não sei. Escrevo para aplacar minha ira santa. Pronto. Já estou melhor.
Aquelas propagandas de banco, com musiquetas suaves, sorrisos largos, bichinhos muito fofos e abraços emocionadíssimos só engana àquele tipo de gente que ainda acredita em papai Noel. Estamos carecas de saber que eles nos esfolam até a alma. Ou melhor, até o último centavo, pois alma não tem liquidez e por isso não lhes interessa. Não vou gastar papel nem tempo para chutar cachorro morto.
Toda vez que vou à agência do Itaú, uma que fica ao lado da igreja da matriz, saio de lá decidido a escrever uma crônica. Depois as miudezas do cotidiano acabam me chamando, me acalmo, tenho que buscar filho na escola, por água no filtro, responder um e-mail e a coisa esfria. Nessa semana foi diferente. Por isso estou aqui.
Não existe acesso sem escada nessa agência do Itaú no largo da matriz. Para quem é portador de necessidades especiais, como eu, que sofro de esclerose múltipla há vinte e três anos e caminho com o auxílio de duas bengalas, isso é sim um caso revoltante.
Até semana passada, tinha um adesivo de cadeirante numa porta de vidro na entrada lateral pela rua Barão de Itaim. Só que a porta ficava trancada. Por isso, o infeliz, no caso eu, que desejasse utilizá-la, deveria ficar batendo no vidro até que alguém, lá dentro, escutasse. Aí colava meu rosto no vidro e ficava berrando que queria entrar. Óbvio. Aí então alguém, lá de dentro, fazia um sinal para eu esperar. Mal sabia que já esperava há mais de cinco minutos, e sob o sol escaldante desta cidade. Aí aquela boa alma ia procurar com quem estavam as chaves. Mais cinco minutos torrando sob o sol. Só então alguém abria a porta e sorria para mim.
- Prontinho, senhor.
Na última vez que tive o desprazer de ir até a tal agência, descobri que tinham retirado o tal adesivo de cadeirante da porta lateral. Acho que resolveram assumir que estão pouco se lixando para essa frescura de acessibilidade.
Então, a duras penas, entrei na agência pelas escadas de degraus larguíssimos. Depois de encerrado meu assunto com minha gerente, disse a ela sobre a falta de acessibilidade da agência. Ela então me respondeu que da próxima vez bastaria eu fazer uma ligação a ela para que abrisse a porta lateral para mim. Simples assim. Ela abriria a porta lateral para eu entrar. Bastaria um telefonema. Quanta gentileza.
Essa gente não entende nada. Não mendigo favores, exijo direitos! A agência tem que oferecer, a mim e a todos os portadores de necessidades especiais, condições para que possamos entrar e sair de lá para que eles nos esfolem com seus juros escorchantes e depois nos apertem a mão com aqueles sorrisos pré-pagos.
Por incrível que pareça, acessibilidade é uma conquista básica ainda não assegurada. E não estou falando de um restaurante de fundo de quintal, estou falando da maior instituição bancária do hemisfério sul.
Quem cuida dessa vergonha? Qual instância do poder público deveria se ocupar disso? Alguém sabe? Eu não sei. Escrevo para aplacar minha ira santa. Pronto. Já estou melhor.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Até tu, SESC?
Até tu, SESC?
Semana que passou fui para Sampa participar de um curso promovido por uma querida amiga. “Ensaios ignorantes” era o nome provocante do curso. Mas topei com a ignorância bem antes de se iniciar o curso. A vida é ainda mais provocante.
Ao me aproximar de mais uma unidade do SESC, local dos tais “Ensaios ignorantes”, brincava com minha companheira sobre as chances de ter meus direitos à acessibilidade respeitados:
- Você verá, dizem que o SESC Interlagos é uma maravilha! Vamos encontrar uma vaga reservada para deficientes bem na porta de acesso ao teatro. Tenho certeza. E ao tirar meus pés do carro, serei interceptado por duas gueixas que prontamente irão tirar meus sapatos e meias e me aplicar uma massagem relaxante nos pés. Você vai ver que beleza.
Chegamos.
- Desculpe senhor, aqui não pode parar. A vaga reservada para cadeirantes é ali atrás. Apontou com o dedo na direção de uma daquelas placas azuis indicativas de vagas para cadeirantes. Ôps, ao invés das gueixas um segurança. Já começou mal. A vaga ficava a cerca de cinquenta metros do acesso ao prédio. Um pouco sem sentido. O caminho era de paralelepípedos. Muito sem sentido. Garoava e o trajeto da vaga especial até a entrada do prédio era descoberta. Qual o sentido disso? A coisa passava da negligência ao sadismo. Longe, escorregadio e sem abrigo contra chuva.
Até tu, SESC?
Cheguei. Ufa!
- Por favor, onde é o teatro para os “Ensaios ignorantes”?
- É só descer as escadas. O teatro fica lá embaixo.
- Elevador?
- Não temos. Infelizmente. Mãozinhas unidas junto ao peito e sorrisinho simpático:
- Não temos.
Lá fui eu. Atenção, cautela, equilíbrio, sensatez, humildade e as bengalas.
Cheguei ufa! Mas se desci tudo isso, terei que subir!
Ainda bem que entre um evento e outro teria os “Ensaios ignorantes” para eu me recompor. O SESC sempre promove eventos tão interessantes.
Apenas sentei-me na poltrona confortável do teatro e ponderei: Se até o SESC que é o baluarte do “politicamente correto”, um militante da batalha civilizatória no país, sempre tão atento às pluralidades e aos princípios tão democráticos da república não respeita o mais básico requisito da acessibilidade, então estou frito.
Por outro lado, esse é um forte indício que continuarei tendo muitos temas para escrever novas crônicas. Posso reuni-las e inscrevê-las nalgum concurso literário promovido pelo SESC. Eles promovem tantos!
Semana que passou fui para Sampa participar de um curso promovido por uma querida amiga. “Ensaios ignorantes” era o nome provocante do curso. Mas topei com a ignorância bem antes de se iniciar o curso. A vida é ainda mais provocante.
Ao me aproximar de mais uma unidade do SESC, local dos tais “Ensaios ignorantes”, brincava com minha companheira sobre as chances de ter meus direitos à acessibilidade respeitados:
- Você verá, dizem que o SESC Interlagos é uma maravilha! Vamos encontrar uma vaga reservada para deficientes bem na porta de acesso ao teatro. Tenho certeza. E ao tirar meus pés do carro, serei interceptado por duas gueixas que prontamente irão tirar meus sapatos e meias e me aplicar uma massagem relaxante nos pés. Você vai ver que beleza.
Chegamos.
- Desculpe senhor, aqui não pode parar. A vaga reservada para cadeirantes é ali atrás. Apontou com o dedo na direção de uma daquelas placas azuis indicativas de vagas para cadeirantes. Ôps, ao invés das gueixas um segurança. Já começou mal. A vaga ficava a cerca de cinquenta metros do acesso ao prédio. Um pouco sem sentido. O caminho era de paralelepípedos. Muito sem sentido. Garoava e o trajeto da vaga especial até a entrada do prédio era descoberta. Qual o sentido disso? A coisa passava da negligência ao sadismo. Longe, escorregadio e sem abrigo contra chuva.
Até tu, SESC?
Cheguei. Ufa!
- Por favor, onde é o teatro para os “Ensaios ignorantes”?
- É só descer as escadas. O teatro fica lá embaixo.
- Elevador?
- Não temos. Infelizmente. Mãozinhas unidas junto ao peito e sorrisinho simpático:
- Não temos.
Lá fui eu. Atenção, cautela, equilíbrio, sensatez, humildade e as bengalas.
Cheguei ufa! Mas se desci tudo isso, terei que subir!
Ainda bem que entre um evento e outro teria os “Ensaios ignorantes” para eu me recompor. O SESC sempre promove eventos tão interessantes.
Apenas sentei-me na poltrona confortável do teatro e ponderei: Se até o SESC que é o baluarte do “politicamente correto”, um militante da batalha civilizatória no país, sempre tão atento às pluralidades e aos princípios tão democráticos da república não respeita o mais básico requisito da acessibilidade, então estou frito.
Por outro lado, esse é um forte indício que continuarei tendo muitos temas para escrever novas crônicas. Posso reuni-las e inscrevê-las nalgum concurso literário promovido pelo SESC. Eles promovem tantos!
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