Até tu, SESC?
Semana que passou fui para Sampa participar de um curso promovido por uma querida amiga. “Ensaios ignorantes” era o nome provocante do curso. Mas topei com a ignorância bem antes de se iniciar o curso. A vida é ainda mais provocante.
Ao me aproximar de mais uma unidade do SESC, local dos tais “Ensaios ignorantes”, brincava com minha companheira sobre as chances de ter meus direitos à acessibilidade respeitados:
- Você verá, dizem que o SESC Interlagos é uma maravilha! Vamos encontrar uma vaga reservada para deficientes bem na porta de acesso ao teatro. Tenho certeza. E ao tirar meus pés do carro, serei interceptado por duas gueixas que prontamente irão tirar meus sapatos e meias e me aplicar uma massagem relaxante nos pés. Você vai ver que beleza.
Chegamos.
- Desculpe senhor, aqui não pode parar. A vaga reservada para cadeirantes é ali atrás. Apontou com o dedo na direção de uma daquelas placas azuis indicativas de vagas para cadeirantes. Ôps, ao invés das gueixas um segurança. Já começou mal. A vaga ficava a cerca de cinquenta metros do acesso ao prédio. Um pouco sem sentido. O caminho era de paralelepípedos. Muito sem sentido. Garoava e o trajeto da vaga especial até a entrada do prédio era descoberta. Qual o sentido disso? A coisa passava da negligência ao sadismo. Longe, escorregadio e sem abrigo contra chuva.
Até tu, SESC?
Cheguei. Ufa!
- Por favor, onde é o teatro para os “Ensaios ignorantes”?
- É só descer as escadas. O teatro fica lá embaixo.
- Elevador?
- Não temos. Infelizmente. Mãozinhas unidas junto ao peito e sorrisinho simpático:
- Não temos.
Lá fui eu. Atenção, cautela, equilíbrio, sensatez, humildade e as bengalas.
Cheguei ufa! Mas se desci tudo isso, terei que subir!
Ainda bem que entre um evento e outro teria os “Ensaios ignorantes” para eu me recompor. O SESC sempre promove eventos tão interessantes.
Apenas sentei-me na poltrona confortável do teatro e ponderei: Se até o SESC que é o baluarte do “politicamente correto”, um militante da batalha civilizatória no país, sempre tão atento às pluralidades e aos princípios tão democráticos da república não respeita o mais básico requisito da acessibilidade, então estou frito.
Por outro lado, esse é um forte indício que continuarei tendo muitos temas para escrever novas crônicas. Posso reuni-las e inscrevê-las nalgum concurso literário promovido pelo SESC. Eles promovem tantos!
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Seria hilário se não fosse trágico! Na minha cidade temos uma pequena sede do SESC. Tão pequena que um cadeirante certamente não entra ali. De muletas é até bem fácil, dá pra largá-las e escorar-se nas paredes, tão próximas um da outra. A única parte grande é a academia de ginástica.
ResponderExcluirFalta muito, muito mesmo para que direitos sejam plenos por aqui.
Adorei a idéia de participar de um concurso literário. Se eles tiverem coragem de aceitar textos falando mal deles, será um sucesso!
Abraços
UAU, que perrengue! Pois é, até tu, SESC? Nunca esperamos algo assim DO SESC. Temos a percepção de um lugar perfeito, ou quase.
ResponderExcluirÉ, estamos fritos!