sexta-feira, 28 de maio de 2010

Chovendo no molhado

Há anos que o incansável Mario cumpria o saudável ritual de ir caminhando até o banco receber sua aposentadoria. Aquela ginástica não era nada perto do contorcionismo contábil que precisava fazer a fim de sobreviver com a miséria da aposentadoria paga pelo governo. Mario se lamentava de poucas coisas na vida, uma delas era de não ter feito uma aposentadoria privada, dessas que prometem uma velhice segura e colorida, geralmente na praia e com muitos netos loirinhos e sorridentes em volta.

Esse é um trecho de uma crônica que gosto bastante. Quem quiser conhecê-la na íntegra basta clicar no link abaixo.

http://www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=22802&adm=1

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Calafrios

Conceber a existência como um acidente,

me dá calafrios como quando imagino um corpo mutilado ou,

como quando lembro de uma gafe constrangedora.

Não suporto o flerte insistente com essa possibilidade.

domingo, 23 de maio de 2010

A vida vai mas vem vindo

Seu Gilberto cumpre uma verdadeira via-crucis caminhando entre as mesas, tapinhas nas costas, sorrisos largos, olhares cúmplices. Um irretocável cicerone. Vez ou outra oferece o microfone, mas nunca para quem já não se saiba que gosta de cantar. O homem é um mestre. Bem que no começo da noite, quando deu a escalação: seu Silvio no violão – sei que ele é homem que cultiva jardins além de participar do grupo de seresta -, Ditinho na percussão e Sebastião no bandolim; seu Gilberto se apresenta como “eterno escravo de vocês”.


O grupo é conhecido pela esmagadora maioria dos presentes, mais do que conhecidos parecem íntimos.

No salão dividido por seis arcos pintados de salmão, as paredes são ornadas com cerca de dez quadros de madeiras onde estão esculpidos cavalos.

- Você reparou que todos os quadros são iguais? Todos com um cavalo.

- Não são iguais; cada cavalo é um cavalo específico, repare bem.

Era verdade. E eu estava me achando o rei da cocada preta por ter notado os quadros, e não só os quadros como também o que estampavam os quadros: cavalos. Como sou observador pensei e logo quis impressionar minha companheira, mas não adiantou. Ela já tinha notado também, e com mais perspicácia que eu. Não eram imagens de um mesmo cavalo, mas sim de vários cavalos diferentes. Evidente.

Naquela manhã tinha lido um artigo do Drauzio Varella no qual defendia a superioridade das mulheres. Tudo me pareceu muito razoável. Argumentação perfeitamente encadeada. Elas são superiores. Nós meio patéticos. Como negar?

Mas naquele bar da cidade do interior o ambiente era surpreendentemente masculino, como atestavam os quadros dos cavalos. Nas mesas muitos grupos de amigos de longa data. Alguns bebendo um pouquinho mais e se permitindo certos sentimentalismos.

O repertório agradava ao público majoritariamente cinquentão, talvez sessentão. Nelson Gonçalves, Benito de Paula, Adoniram, Paulinho da Viola, Ataulfo Alves e congêneres. Alguns, mais expansivos, tinham livre trânsito em várias mesas. Circulavam daqui prá li, ora se sentavam com uns ora com outros.

Olhava admirado. O ambiente tinha jeitão de matinée de boêmia. Era cedo, dez da noite. Mas o clima estava em ebulição, uma ebulição recatada, comedida, coisa de gente madura. Já devem ter dado muito vexame na vida mas, hoje já são mais seletivos e usufruem das razoabilidade que vem com a idade.

O grupo de seresta é todo generosidade. Tocam para o seu público, estão a serviço. Não existe subserviência, é doação. “eterno escravo de vocês.”

Tem algo de menino naqueles rostos sulcados, ares de traquinagem nos andares lentos, diversão nos olhares de pálpebras caídas. A cada nova música reacende o reboliço. Existem certas idades quando tudo faz referência a alguma lembrança, alguma experiência inesquecível.

Já é tarde, mais de onze, quando chega um grupo de quatro senhoras. Sentam-se animadas, agitadinhas, quase zombeteiras. Seu Gilberto vai até elas, claro. Oferece o microfone. Elas se esbaldam.

- Vamos pedir a conta?

A noite já tinha valido. Lá era um ambiente de. homens. Os quatro seresteiros, os garçons, as mesas com os velhos amigos e os quadros dos cavalos. Tudo muito masculino. Exalava aroma de “água velva”. E mesmo assim tudo era bondade, amizade, gentileza, amorosidade, traquinagem, leveza.

- O Drauzio que me desculpe, mas os homens também são demais!

Seu Gilberto se aproxima, primeiro para lamentar que estejamos de partida, depois para oferecer o microfone mais uma vez. Entrega o microfone e sopra o próximo verso:

- Marina morena você faça tudo, mas faça o favor...

Evidente que os homens estariam falando das mulheres.

Minha companheira abre a porta do carro para mim. Outro grupo de três senhoras octogenárias entra no salão. Estão bem animadas.

Vou dormir satisfeito por finalmente ter conseguido argumentos para discordar do artigo do Drauzio. E como prêmio extra, aquelas senhoras ainda me fizeram crer que a vida vai, mas vem vindo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vida artificial

De cara me parece uma contradição; se é vida não pode ser artificial, ou pode?
Tenho receio de parecer um reacionário mas essa história me assusta. Penso logo no Frankenstein.
Pensando bem , não precisamos da vida artificial para criarmos um Frankestein, ele já circula por aí, talvez por aqui.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Eleições presidenciais

Se o José serra, então ele que se lixe.

domingo, 16 de maio de 2010

Vida após a morte

Não sabemos nada sobre isso.
Mas me alivia pensar que,
quando morrermos,
teremos a morte toda pela frente.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Um trote


Hoje acordei às cinco da manhã, me senti um monge tibetano. Saí e o céu ainda estava escuro. Frio e estrelas. Fui para Sampa fazer uma apresentsação num evento. Encontrei meus amigos do coração, me diverti, faturei uns dindins e voltei prá casa. Sentado na varanda da casa, vendo o movimento dos pássaros daqui pralí, senti a satisafação do dever cumprido. Depois achei esse sentimento uma coisa muito reacionária pois junta numa idéia só, a noção de dever e a culpa absolvida pelo fato do dever ter sido cumprido. Acho que um indio não sentiria isso. Ele sentiria o prazer de estar ali com os pássaros depois de ter estado lá com seus amigos. Droga. A culpa é uma sombra em dia de sol. Tá sempre lá. Já pensou um mundo no qual as pessoas não conhecessem o sentimento da culpa? Como seriam nossas vidas sem a urgência da culpa a ser espiada? Não consigo nem sentir como isso seria. Do que será que a gente se ocuparia? Será que agiríamos muito diferente do que agimos? Será que seríamos mais felizes ou só inventaríamos outra sombra a nos atasanar? Quando penso em culpa, lembro do lobo mau. Prá mim a culpa é o lobo mau. E pensar que tudo isso começou com aquela sensação gostosa do dever cumprido. A mente é mesmo um trote. Faz a gente perder um baita tempo com chistes sem graça. O pior é quando não consigo distinguir com clareza, quando é trote e quando é insight. E se todo insight for um trote? E vice versa? Vou aproveitar que estou sozinho em casa e ouvir As vitrines do Chico. Engraçado, falando assim, parece que o Chico é um artista plástico que faz vitrines e está tendo uma erxposição das vitrines dele. Estar sozinho é um grande desafio. A voz interior não dá tréguas, ela fica solando. Longos solilóquios intermináveis. É tipo um trote interurbano. Ando pensando num esquema SE-ENTÂO. Se não sei o que dizer, então escuto ao invés de falar. Parece fácil? Então tente conversar com alguém sem ficar balançando a cabeça em sinal de aprovação a cada nova frase que seu interlocutor diz. A gente fica falando com o gesto da cabeça, não consegue só ouvir.

Aflição
Quando e como voltaremos se,
ao voltarmos não resta ninguém
a confirmar a nossa volta?
O que pode ser sem testemunho algum?
Como saberei que não estou louco?
O que esperar? Estar ou não estar louco? Claro que não estou louco. Esse trote eu flagrei! E bati o telefone na cara dele. Não  se deixar cair num trote faz a gente se sentir muito esperto. Desconfio que isso seja outro trote. Vê como ficar sozinho é perigoso. Como a gente é louco. Acho que todo mundo é meio louco assim. De tanto receber trote o cara fica louco. É como a história da menina que gritava olha o lobo a todo instante e quando tem um lobo de verdade, ninguém acredita e o lobo: NHACT na menina.

Vou passar um trote:
Inescapável
Ignore este aviso.
Experimente. É impossível. Esse é aquele trote que o engraçadinho desliga e ainda deixa o telefone fora do gancho.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O tempo

A ideia de tempo é uma coisa que sempre me espanta. Tem um trecho de um poema, acho que do Mario Quintana,  diz que "toda a tristeza dos rios é não poder parar."  Isso me lembra o tempo.


TEMPO

Que dia é hoje?
Que horas são agora?
Em que ano estamos?

Repare bem: A humanidade nunca esteve além.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

BOAS VINDAS

Estou feliz por  inaugurar um novo espaço onde poço compartilhar minhas viagens, agonias, reflexões, dúvidas e questões recorrentes.
Prá início de conversa, começo com uma dúvida, sempre um bom começo:

Banalidades

Um chiste pode ser banal.
Uma observação pode ser banal.
Uma discussão pode ser banal.
Uma vida pode ser banal.
Pode?