25/12 - C33-Ivo sempre temeu ser um cara medíocre e nunca realizar nada q o distinguisse. Fazia tempo q considerava a ideia de matar alguém, pq não?
23/12 - C32-Ivo viu sua vida passar na tela da mente como 1 filme. A infância classe media o pai alcoólatra, o sonho de ser médico e seu gde medo.
22/12 - C31-Preciso saber p/ onde levaram Ida. PH: foi levada a um abrigo da prefeitura. Preciso saber o q vc fazia no apê de Ana na noite do crime?
20/12 - C30-Ivo voltou p/ casa. O irmão de Ida o esperava. Fez ameaças, deu 2 horas p/ Ivo trazer a menina de volta. Ivo voltou a delegacia. PH riu
18/12- C29-Seqüestro? Cárcere? Dei guarida p/ menina, fui solidário s/ saber q isso era crime. Vou sair daqui bem agora. PH sorriu. Nos vemos.breve.
16/12 - C28- Pq ñ disse nada s/ a menina no interrogatório? Terei q prendê-lo p/ sequestro e cárcere privado. O assassinato da velha fica p/ depois
15/12- C27-Conheci a menina na rua e a levei p/ casa, tive pena. Ficou em casa + de mês e depois fugiu. PH: talvez seja 1 bom álibi, me acompanha?
14/12 - C26-O tira conta q Ida foi encontrada dormindo na porta do apê de Ivo. Ela estava sozinha e dizia ser filha de Ivo. PH: O q me diz Sr Ivo?
13/12- C25-O interrogatório foi interrompido p/ 1 tira q trazia Ida à delegacia. "Olha aqui Dr, a menina diz q é filha do rapaz aí". PH se engasga.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Infraero ANAC e TAM tratam idosos e deficientes como gado
Fico imaginando como será a vida de quem for usar avião durante a copa do mundo em 2014. Se já vivemos um verdadeiro caos cada vez que precisamos usar os aeroportos agora, na copa, com quase um milhão de turistas na terra Brasilis, será mais fácil viajar de jegue.
Aliás, a Infraero a ANAC e a TAM já tem experiência de sobra para lidar com esse tipo de animal. Refiro-me aos jegues, parentes dos cavalos, primo das vacas. Para quem acha que estou exagerando, conto o que se passou comigo, em Congonhas, no fim de semana passado.
Fui convidado a participar da cerimônia de premiação do IV Concurso literário da UFF (Universidade Federal Fluminense) que aconteceria no campus da universidade em Niterói. Os organizadores do concurso foram extremamente gentis e carinhosos e ofereceram transporte aéreo e hospedagem aos finalistas do concurso. Fui.
Cheguei ao guichê da minha companhia aérea para fazer o chéquim, já que o chequão a gente faz quando compra a passagem. Solicitei uma cadeira de rodas. Fui prontamente acomodado numa cadeira, é verdade que tive que dar uma reboladinha para fazer meu quadril passar entre os braços da cadeira. Não é meu quadril que é largo, era a cadeira que era ridícula. O atendente tirou-me da região do chequim e colocou-me num canto, a parte. Fiquei incomodado com a solução e tratei de procurar as rodas da cadeira com as mãos a fim de me movimentar e sair daquela posição de escanteio na qual fui colocado. Apalpo daqui, apalpo dali e surpresa: não encontro roda alguma. A cadeira de rodas não tinha rodas, pelo menos não aquelas rodas grandes que emprestam o nome à cadeira de rodas. Estava devidamente deixado de lado e sem possibilidade de me locomover caso fosse totalmente dependente de uma cadeira de rodas. Ergui-me da cadeira e levei meus documentos indispensáveis ao tal chequim me apoiando em minha bengala.
Feito o chequim um funcionário da companhia aérea, muito solícito, transportou-me, naquela cadeira, até ao local do embarque. Após passar pela revista fui levado até uma espécie de baia, cercada por cordas de isolamento. Era um retângulo de aproximadamente 3x10 metros. Estacionou minha cadeira e me orientou a aguardar o embarque que ocorreria dali a umas duas horas. Na minha frente quatro ou cinco senhoras idosas e um senhor também idoso. Todos desacompanhados aguardando o embarque. A tal baia ficava bem no meio da passagem dos cidadãos “normais”, era uma espécie de mostruário ou vitrina de invalidez, por idade ou por motivo de saúde no meu caso.
Como ainda faltava muito tempo para o embarque decidi locomover-me pelo saguão, dar um rolê, bisbilhotar uma livraria, beber um café expresso e esse tipo de coisa que fazemos em aeroportos enquanto esperamos nosso embarque.
Ato-falho levei as mãos à lateral da cadeira em busca das rodas. Ôps, que idiota! Tinha me esquecido. Levantei-me, desencaixei o quadril com certo esforço, a cadeira levantou junto, mas logo cedeu e soltou-se das minhas ancas estreitas. Peguei minha bengala e nova surpresa: não tinha saída naquele retângulo cercado por cordas. Sob os olhares incrédulos dos demais confinados, liberei a corda de um dos lados do retângulo quando fui abordado por uma funcionária da companhia aérea:
- Pois, não, o que senhor deseja?
- Eu desejo tomar um café, passear e principalmente sair dessa baia aberta à visitação pública na qual fui colocado.
- Desculpe...
Como a funcionária não me entendeu fui mais direto e conciso:
- Quero sair daqui.
- Ah, mas o senhor não pode...
Nem deixei completar as balelas que iria dizer:
- Claro que vou sair, você deve estar maluca.
- Mas a passagem do senhor ficou com o funcionário. Os passageiros especiais têm que esperar aqui.
Espichei o pescoço para dentro do balcão e vi uma passagem, num ato de rebeldia, meti a mão lá dentro, peguei a passagem – depois conferi e constatei que de fato tratava-se da minha passagem - e sob o olhar estupefato da funcionária, liberei a corda de isolamento e, antes de recolocá-la no lugar, olhei para meus companheiros de vitrina da invalidez como que os convidando a um ato de rebeldia. Ninguém se mexeu. De certo haviam sido bem orientados. Rompi os grilhões da Infraero. Estava livre. Caminhei e lá de fora pude contemplar a cena medonha daqueles senhores expostos à visitação pública, ilhados, confinados num cercadinho como se fossem bebês ou pior, como se fossem porcos ou vacas num curral.
Então isso é tratamento especial? Esse povo precisa tomar vergonha na cara.
A tempo: embarquei, compareci a cerimônia de premiação e fui classificado em primeiro lugar no concurso de contos.
Aliás, a Infraero a ANAC e a TAM já tem experiência de sobra para lidar com esse tipo de animal. Refiro-me aos jegues, parentes dos cavalos, primo das vacas. Para quem acha que estou exagerando, conto o que se passou comigo, em Congonhas, no fim de semana passado.
Fui convidado a participar da cerimônia de premiação do IV Concurso literário da UFF (Universidade Federal Fluminense) que aconteceria no campus da universidade em Niterói. Os organizadores do concurso foram extremamente gentis e carinhosos e ofereceram transporte aéreo e hospedagem aos finalistas do concurso. Fui.
Cheguei ao guichê da minha companhia aérea para fazer o chéquim, já que o chequão a gente faz quando compra a passagem. Solicitei uma cadeira de rodas. Fui prontamente acomodado numa cadeira, é verdade que tive que dar uma reboladinha para fazer meu quadril passar entre os braços da cadeira. Não é meu quadril que é largo, era a cadeira que era ridícula. O atendente tirou-me da região do chequim e colocou-me num canto, a parte. Fiquei incomodado com a solução e tratei de procurar as rodas da cadeira com as mãos a fim de me movimentar e sair daquela posição de escanteio na qual fui colocado. Apalpo daqui, apalpo dali e surpresa: não encontro roda alguma. A cadeira de rodas não tinha rodas, pelo menos não aquelas rodas grandes que emprestam o nome à cadeira de rodas. Estava devidamente deixado de lado e sem possibilidade de me locomover caso fosse totalmente dependente de uma cadeira de rodas. Ergui-me da cadeira e levei meus documentos indispensáveis ao tal chequim me apoiando em minha bengala.
Feito o chequim um funcionário da companhia aérea, muito solícito, transportou-me, naquela cadeira, até ao local do embarque. Após passar pela revista fui levado até uma espécie de baia, cercada por cordas de isolamento. Era um retângulo de aproximadamente 3x10 metros. Estacionou minha cadeira e me orientou a aguardar o embarque que ocorreria dali a umas duas horas. Na minha frente quatro ou cinco senhoras idosas e um senhor também idoso. Todos desacompanhados aguardando o embarque. A tal baia ficava bem no meio da passagem dos cidadãos “normais”, era uma espécie de mostruário ou vitrina de invalidez, por idade ou por motivo de saúde no meu caso.
Como ainda faltava muito tempo para o embarque decidi locomover-me pelo saguão, dar um rolê, bisbilhotar uma livraria, beber um café expresso e esse tipo de coisa que fazemos em aeroportos enquanto esperamos nosso embarque.
Ato-falho levei as mãos à lateral da cadeira em busca das rodas. Ôps, que idiota! Tinha me esquecido. Levantei-me, desencaixei o quadril com certo esforço, a cadeira levantou junto, mas logo cedeu e soltou-se das minhas ancas estreitas. Peguei minha bengala e nova surpresa: não tinha saída naquele retângulo cercado por cordas. Sob os olhares incrédulos dos demais confinados, liberei a corda de um dos lados do retângulo quando fui abordado por uma funcionária da companhia aérea:
- Pois, não, o que senhor deseja?
- Eu desejo tomar um café, passear e principalmente sair dessa baia aberta à visitação pública na qual fui colocado.
- Desculpe...
Como a funcionária não me entendeu fui mais direto e conciso:
- Quero sair daqui.
- Ah, mas o senhor não pode...
Nem deixei completar as balelas que iria dizer:
- Claro que vou sair, você deve estar maluca.
- Mas a passagem do senhor ficou com o funcionário. Os passageiros especiais têm que esperar aqui.
Espichei o pescoço para dentro do balcão e vi uma passagem, num ato de rebeldia, meti a mão lá dentro, peguei a passagem – depois conferi e constatei que de fato tratava-se da minha passagem - e sob o olhar estupefato da funcionária, liberei a corda de isolamento e, antes de recolocá-la no lugar, olhei para meus companheiros de vitrina da invalidez como que os convidando a um ato de rebeldia. Ninguém se mexeu. De certo haviam sido bem orientados. Rompi os grilhões da Infraero. Estava livre. Caminhei e lá de fora pude contemplar a cena medonha daqueles senhores expostos à visitação pública, ilhados, confinados num cercadinho como se fossem bebês ou pior, como se fossem porcos ou vacas num curral.
Então isso é tratamento especial? Esse povo precisa tomar vergonha na cara.
A tempo: embarquei, compareci a cerimônia de premiação e fui classificado em primeiro lugar no concurso de contos.
domingo, 19 de dezembro de 2010
Conto premiado
Meu conto "Cinquenta anos...e agora?" foi classificado em primeiro lugar no IV concurso de literatura da Universidade Federal Fluminenese (UFF).
Abaixo um tiragosto e o link para quem quiser a refeição completa.
- Dona Benedita, tem um homem lá no portão.
- Então pode mandá-lo embora, pois não estou esperando ninguém.
- Ele está forçando o portão.
- Solta os cachorros.
- Agora está mexendo na corrente que fecha o portão.
- Solta os cachorros já falei.
- O homem está chacoalhando o portão.
- Chama o Teodoro.
- Hoje é domingo, folga do Teodoro. Esqueceu? O homem está tirando o terno.
- Chama a polícia, deve ser um tarado."
http://comendadorporescrito.blogspot.com/p/cinquenta-anose-agora-1-lugar-no-iv.html
Abaixo um tiragosto e o link para quem quiser a refeição completa.
50 anos... e agora?
"O range-range da velha cadeira de balanço só cessava quando dona Benedita pegava no sono. Era uma velha casa com piso de tábuas. Tudo rangia por ali. - Dona Benedita, tem um homem lá no portão.
- Então pode mandá-lo embora, pois não estou esperando ninguém.
- Ele está forçando o portão.
- Solta os cachorros.
- Agora está mexendo na corrente que fecha o portão.
- Solta os cachorros já falei.
- O homem está chacoalhando o portão.
- Chama o Teodoro.
- Hoje é domingo, folga do Teodoro. Esqueceu? O homem está tirando o terno.
- Chama a polícia, deve ser um tarado."
http://comendadorporescrito.blogspot.com/p/cinquenta-anose-agora-1-lugar-no-iv.html
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Um crime sem pena - Folhetim via twitter - veja o que aconteceu na terceira semana
11/12 C24- Ivo sentia-se acuado e gaguejou mais de uma vez. PH fechava o cerco. O interrogatório durou 4 hs e acabou de modo surpreendente p/ PH.
10/12 C23- Estou explicando q onde quero ñ posso chegar; me acompanha? Minha esperança é q meu suspeito é inteligente e entenderá. Me acompanha?
9/12 C22- PH prossegue: como delegado responsável p/ inquérito ñ posso fazer isso, vc me acompanha? Ñ entendo onde quer chegar, lamenta-se Ivo
8/12 C21-PH: tenho tantos indícios contra meu suspeito q, se tivesse oportunidade, daria jeito de aconselhá-lo a apresentar-se como réu confesso.
7/12 C20- PH, palito entredentes: Ñ percamos tempo. Nem o teu nem o meu. Se houve 1 crime há 1 criminoso. Tenho um suspeito. Você me acompanha?
6/12 C19- Ivo se sente pressionado e responde: acho q ñ seria humano matar por causa de dinheiro. PH solta uma gargalhada e convida Ivo a entrar.
10/12 C23- Estou explicando q onde quero ñ posso chegar; me acompanha? Minha esperança é q meu suspeito é inteligente e entenderá. Me acompanha?
9/12 C22- PH prossegue: como delegado responsável p/ inquérito ñ posso fazer isso, vc me acompanha? Ñ entendo onde quer chegar, lamenta-se Ivo
8/12 C21-PH: tenho tantos indícios contra meu suspeito q, se tivesse oportunidade, daria jeito de aconselhá-lo a apresentar-se como réu confesso.
7/12 C20- PH, palito entredentes: Ñ percamos tempo. Nem o teu nem o meu. Se houve 1 crime há 1 criminoso. Tenho um suspeito. Você me acompanha?
6/12 C19- Ivo se sente pressionado e responde: acho q ñ seria humano matar por causa de dinheiro. PH solta uma gargalhada e convida Ivo a entrar.
sábado, 11 de dezembro de 2010
O menos é mais
Parece que a gente passa a vida sendo confrontado com números e avaliações. Notas na escola, rankings do seu time do coração, número de medalhas ganhas ou perdidas desde a infância, acervo de livros e CDs, graus de especialização profissional e por aí vai.
Outro dia li na capa de uma revista que folheava num consultório médico: Trezentas e cinqüenta dicas para você arrasar nesse verão. Sempre concebi “dicas” como pequenas pérolas; toques preciosos, segredos compartilhados entre grandes amigos, pequenas gotas de sabedoria passadas de pai para filhos. Trezentas e cinqüenta dicas me pareceram um assombro.Estamos em época de natal e o apelo por mais consumo fica ainda mais truculento. Em casa fizemos uma limpeza nos brinquedos do Léo e nos espantamos com o mundaréu de coisas que ele já tem com apenas cinco anos de idade.
Ligo o rádio e ouço boletins atualizando notícias a cada trinta minutos.
Há pouco nos mudamos para Itu e à medida que encaixotávamos nossas coisas íamos nos espantando: será que a gente precisa mesmo de tudo isso pra viver?
Diariamente fico preso em engarrafamentos abissais e leio nos jornais que a indústria de automóvel vive batendo recordes de produção.
Outro dia apresentei meu espetáculo de palhaço em uma grande empresa em São Paulo Fazemos um jogo no qual recebemos frases escritas colhidas junto à nossa platéia. Uma delas dizia: “vou ficar rico até completar vinte e cinco anos” e outra “quero juntar um milhão de dólares antes dos trinta anos”.
Tiramos do planeta tudo que conseguimos, até nas profundezas do solo enfiamos sondas para sugar mais e mais riquezas. Mineiros morrem soterrados em minas espalhadas pelo mundo.
Isso tudo me remete à tragédia de Sísifo, herói condenado pelos deuses à tarefa inesgotável de todos os dias carregar uma enorme pedra até o topo de um penhasco e vê-la despencando ribanceira abaixo.
Noite dessas, olhei para o céu e ele estava estrelado. Sei que são cem milhões de estrelas só em nossa galáxia. E nossa galáxia é uma perdida entre outros cem milhões de galáxias. Saber que toda aquela imensidão não tem dono e nunca poderá ter devolveu um pouco de paz ao meu espírito e fui dormir com um sorrisinho besta de canto de boca.
Na manhã seguinte, quase engasguei e por pouco não cuspi o gole de café com leite que acabava de saborear ao ler no jornal que o homem já tem data para sua primeira viagem tripulada a marte.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Espelho meu, existe alguém mais feio do que eu?
Existem informações que estão disponíveis o tempo todo, mas ajo como se não as visse. Me envergonho mas não o suficiente para mudar minha atitude.
Um; dois; três; quatro; cinco.A cada cinco segundos uma criança morre de fome no mundo.
Quando não há o que comer, o corpo entra em um ciclo vicioso: a falta de alimento gera falta de energia e fadiga. Ao perder as forças a pessoa perde a vontade de comer, deixa de se mexer e até de falar. Seu estômago atrofia o que faz com que os mecanismos reguladores da fome deixem de funcionar, por isso crianças desnutridas acabam ficando desidratadas. A pele ressecada se abre em feridas que irão infeccionar, o músculo atrofiado dói a qualquer movimento e o tubo digestivo é atacado por fungos, fazendo com que engolir se torne impossível. Sem receber os nutrientes necessários para manter as funções vitais como respiração e batimentos cardíacos, o corpo busca energia na reserva de gordura e nos músculos e modifica suas funções, como o equilíbrio celular. A pessoa tem seus traços emaciados e seus músculos atrofiados. Os cabelos se tornam brancos ou avermelhados.
Agora mesmo cerca de um bilhão de pessoas estão sentindo tudo isso que acabei de falar apesar de a indústria alimentícia produzir alimentos suficientes para abastecer uma vez e meia a população da Terra.
Que coragem é essa que me falta? Até quando serei tão cruel e indiferente ao sofrimento do próximo? Se visse meu filho com fome eu seria capaz das maiores grandezas, sacrifícios e loucuras, como são os filhos dos meus irmãos eu lhes ofereço minha solene indiferença e os entrego aos urubus. E ainda tem gente que não acredita no demônio. É que eles ainda não me conheceram.
Um; dois; três; quatro; cinco.A cada cinco segundos uma criança morre de fome no mundo.
Quando não há o que comer, o corpo entra em um ciclo vicioso: a falta de alimento gera falta de energia e fadiga. Ao perder as forças a pessoa perde a vontade de comer, deixa de se mexer e até de falar. Seu estômago atrofia o que faz com que os mecanismos reguladores da fome deixem de funcionar, por isso crianças desnutridas acabam ficando desidratadas. A pele ressecada se abre em feridas que irão infeccionar, o músculo atrofiado dói a qualquer movimento e o tubo digestivo é atacado por fungos, fazendo com que engolir se torne impossível. Sem receber os nutrientes necessários para manter as funções vitais como respiração e batimentos cardíacos, o corpo busca energia na reserva de gordura e nos músculos e modifica suas funções, como o equilíbrio celular. A pessoa tem seus traços emaciados e seus músculos atrofiados. Os cabelos se tornam brancos ou avermelhados.
Agora mesmo cerca de um bilhão de pessoas estão sentindo tudo isso que acabei de falar apesar de a indústria alimentícia produzir alimentos suficientes para abastecer uma vez e meia a população da Terra.
Que coragem é essa que me falta? Até quando serei tão cruel e indiferente ao sofrimento do próximo? Se visse meu filho com fome eu seria capaz das maiores grandezas, sacrifícios e loucuras, como são os filhos dos meus irmãos eu lhes ofereço minha solene indiferença e os entrego aos urubus. E ainda tem gente que não acredita no demônio. É que eles ainda não me conheceram.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Um crime sem pena de 29/11 a 04/12
Acompanhe o que aconteceu na primeira novela via twitter durante a semana passada:
04/12 C 18- O delegado PH recebe Ivo na porta da delegacia. Sorridente indaga: vc acha q algum inquilino inadimplente gostaria de ver Ana morta
03/12 C 17-Ivo acolhe Ida.Dizem no bairro q a morte de Ana foi criminosa, provavelmnte algum inquilino perdulário.Ivo irá depor na manhã seguinte
02/12 C16 - Ida conta onde esteve p/ 15 dias e desculpa-se p/ sumiço. Ivo a abraça e chora. Ida visitou seu irmão + velho mas foi mandada de volta
01/12 C 15 - Ivo deve comparecer à delegacia p/ depor. Suas ideias estão em rebuliço. Ida, doente e chorando, toca a campainha. Ivo a faz entrar.
30/11 C 14 - Investigações preliminares indicam q houve envenenamento, resta saber se foi criminoso ou acidental. Chega um aintimação para Ivo.
29/11 C 13 - Uma filha de Ana avisa, via fone, q a velha foi encontrada morta em seu apê. Há suspeita de envenenamento. Ivo pergunta s/ o enterro.
04/12 C 18- O delegado PH recebe Ivo na porta da delegacia. Sorridente indaga: vc acha q algum inquilino inadimplente gostaria de ver Ana morta
03/12 C 17-Ivo acolhe Ida.Dizem no bairro q a morte de Ana foi criminosa, provavelmnte algum inquilino perdulário.Ivo irá depor na manhã seguinte
02/12 C16 - Ida conta onde esteve p/ 15 dias e desculpa-se p/ sumiço. Ivo a abraça e chora. Ida visitou seu irmão + velho mas foi mandada de volta
01/12 C 15 - Ivo deve comparecer à delegacia p/ depor. Suas ideias estão em rebuliço. Ida, doente e chorando, toca a campainha. Ivo a faz entrar.
30/11 C 14 - Investigações preliminares indicam q houve envenenamento, resta saber se foi criminoso ou acidental. Chega um aintimação para Ivo.
29/11 C 13 - Uma filha de Ana avisa, via fone, q a velha foi encontrada morta em seu apê. Há suspeita de envenenamento. Ivo pergunta s/ o enterro.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Subvertendo protocolos
Às vezes fico pensando como seria a vida se rompêssemos certas regras pré –estabelecidas. Nem falo de revolução, povo em armas ou guerrilha urbana. Penso no pequeno. Se, por exemplo, respondêssemos de verdade quando nos saúdam com a formalidade de sempre: Oi, como vai? Tudo certo? Se tomássemos essa pergunta como um desejo real de tomar pé da vida do outro eu convidaria meu amigo (?) a sentar-se e lhe diria:
Mudei-me para o interior e só fiz confirmar meu aprendizado de quando tinha vinte e um anos: mudanças trazem bem aventurança. O movimento da mudança, nem importa muito a direção, já revitaliza,oferece novas perspectivas para antigos enquadramentos, sugere possibilidades, confessa preferências esquecidas. Mantém o disco rodando, evita acomodamento. E com os inevitaveis medos e desconfianças a gente aprende a lidar e até que começa a gostar do frisson que causam.
Coincidência ou não a volta ao interior tem duplo sentido. Tenho tempo de conversar com minha companheira mesmo quando não temos assunto. A falta dele traz as bobagens, as tolices e de repente alguém se lembra: Ah, queria te falar uma coisa! Ficamos tanto tempo nesse namoro besta, rindo baixinho para não acordar o Léo, vendo estrela cadente e tirando par ou impar para ver quem vai buscar o suco de goiaba e quando nos damos conta já passamos da hora de dormir faz tempo.
Sem falar da rotina de algazarra do Leó que chega da escola e ja vai pedalar na rua sem medo de ser atropelado e das visitas que, sem nos avisar, ele faz às casas dos amiguinhos e deixa a gente procurando por ele, tocando campainha e recebendo consolo de mães solidárias: Ai, o meu também, vive sumindo.
Acho que agora eu sou isso, um homem do interior.
Parece que agora tenho tempo para decantar-me. Provavelmente depois será bom chacoalhar de novo para misturar tudo outra vez mas aí já estou indo rápido demais, vício antigo sendo diluído em gotas homeopáticas de vida nova.
Toda vez que me sentava em minha cabina, ajeitava minha bagagem e ficava olhando pela janela do trem via aquela cidade desconhecida que já tinha virado familiar sumindo para sabe-se lá quando, provavelmente nunca mais, eu sorria certo das novidades que encontraria em meu próximo destino e mais tarde abandonaria como agora abandonava aquela. Mudar é bom. Eu só tinha vinte e um anos e fiquei marcado para sempre, isso não muda mais e gosto que não mude. É a tal exceção à regra.
Sinto-me como quando uma criança que depois de ficar muito tempo com a cabeça para fora do carro resolve se sentar novamente para curtir a viagem de outra forma. A diferença é que não fico mais perguntando se falta muito para chegar pois já descobri que nunca chegaremos.
E você, como vai?
Mudei-me para o interior e só fiz confirmar meu aprendizado de quando tinha vinte e um anos: mudanças trazem bem aventurança. O movimento da mudança, nem importa muito a direção, já revitaliza,oferece novas perspectivas para antigos enquadramentos, sugere possibilidades, confessa preferências esquecidas. Mantém o disco rodando, evita acomodamento. E com os inevitaveis medos e desconfianças a gente aprende a lidar e até que começa a gostar do frisson que causam.
Coincidência ou não a volta ao interior tem duplo sentido. Tenho tempo de conversar com minha companheira mesmo quando não temos assunto. A falta dele traz as bobagens, as tolices e de repente alguém se lembra: Ah, queria te falar uma coisa! Ficamos tanto tempo nesse namoro besta, rindo baixinho para não acordar o Léo, vendo estrela cadente e tirando par ou impar para ver quem vai buscar o suco de goiaba e quando nos damos conta já passamos da hora de dormir faz tempo.
Sem falar da rotina de algazarra do Leó que chega da escola e ja vai pedalar na rua sem medo de ser atropelado e das visitas que, sem nos avisar, ele faz às casas dos amiguinhos e deixa a gente procurando por ele, tocando campainha e recebendo consolo de mães solidárias: Ai, o meu também, vive sumindo.
Acho que agora eu sou isso, um homem do interior.
Parece que agora tenho tempo para decantar-me. Provavelmente depois será bom chacoalhar de novo para misturar tudo outra vez mas aí já estou indo rápido demais, vício antigo sendo diluído em gotas homeopáticas de vida nova.
Toda vez que me sentava em minha cabina, ajeitava minha bagagem e ficava olhando pela janela do trem via aquela cidade desconhecida que já tinha virado familiar sumindo para sabe-se lá quando, provavelmente nunca mais, eu sorria certo das novidades que encontraria em meu próximo destino e mais tarde abandonaria como agora abandonava aquela. Mudar é bom. Eu só tinha vinte e um anos e fiquei marcado para sempre, isso não muda mais e gosto que não mude. É a tal exceção à regra.
Sinto-me como quando uma criança que depois de ficar muito tempo com a cabeça para fora do carro resolve se sentar novamente para curtir a viagem de outra forma. A diferença é que não fico mais perguntando se falta muito para chegar pois já descobri que nunca chegaremos.
E você, como vai?
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